Ajustando as bússolas para um futuro próspero
por Augusto Cesar Barreto Rocha
As bússolas para a construção de um futuro mais próspero vez por outra perdem o alinhamento de seu azimute (medida angular que aponta a direção). As universidades, junto com a imprensa e outras instituições, visam manter o entendimento e a calibragem do pensamento e das discussões públicas para a construção do desenvolvimento e harmonia.
Como alertou o Prof. Muniz Sodré, em sua coluna da Folha de São Paulo (15/06/25), há um “eterno espírito das universidades”, onde afirmou que “nenhuma comunidade de saber é possível num sistema educativo à distância nem em universidades-empresas” e que “vivem na corda bamba de orçamentos mesquinhos e corte drásticos” e que o “ambiente universitários no mundo todo é conservador”, com “espírito libertário sujeito aos debates”.
Suas reflexões são muito importantes, pois vivemos em um país com orçamentos pífios, críticas vazias e surpreendidos pelo que acontece no ambiente universitário dos EUA, que eram até a pouco tempo um oásis de criação de ciência, tecnologia e progresso, com uma certa independência.
Nos últimos dias tive a alegria de lecionar gestão da inovação tecnológica para o doutorado em biotecnologia, em um auditório da UFAM com 20 alunos e remotamente para outros 160, da Rede Bionorte (em universidades de toda a Amazônia Legal). É uma experiência que faço faz mais de uma década, onde aprendo e ensino, ao conhecer pesquisas em vários estágios, da básica, até as startups como a @elevaramazonia, com o seu Vinagre de Cupuaçu, em fase final de desenvolvimento.
Mesmo ali, com tantos alunos mergulhados em suas pesquisas e bancadas, é perceptível como o debate de política anda superficial. O que é extrema direita, extrema esquerda, por que não temos bolsas suficientes, quais as saídas institucionais, como construir o diálogo e o trabalho em grupo, como atuar em sociedade para melhorar o país ou erguer sua empresa, onde e como entra a remuneração da universidade. São tantas as faltas de clareza, que brinquei que era um “jardim da infância do cientista”, afinal o doutorado é para formar cientistas. Discutir política com ciência parece ser uma necessidade em todo o ambiente acadêmico e social. Precisamos parar de fugir do debate político.
Precisamos de muito mais discussões de ciência política e sociologia nas escolas e universidades. Fora disso, teremos muita massa de manobra para se auto-subordinar para cada nova moda do marketing, do influenciador ou do discurso de ódio. Repete-se tanto que universidades são naturalmente de esquerda, que existem pessoas que acreditam que isso é uma regra. Ao contrário, universidades são ambientes plurais e um tanto conservadores, salvo nas ciências sociais. Fala-se tanto que não há criação de empresas, que há pessoas que esquecem que a inovação tecnológica é para gerar negócio. Estuda-se gestão, que é a ciência onde se constroem líderes, que coordenarão e controlarão atividades.
Importante ainda notar que no Brasil são as universidades públicas as principais instituições do registro de patentes e da formação de mão de obra qualificada para a alta tecnologia. Precisamos promover um reencontro das universidades com a sociedade e eliminar os discursos de ódio no ambiente que poderá ajudar na construção de um país mais próspero, com mais riqueza e menos desigualdades. Reduzir a dependência tecnológica estrangeira, neste mundo de bússolas perdidas só será possível com mais atenção, para que paremos de entregar nosso subsolo e nossa soberania em trocas desiguais, como toneladas de soja, por alguns eletrônicos. Chegou a hora de desenvolver nossos próprios veículos autônomos e drones, pois o mundo está cada vez mais belicoso. Ajustemos as bússolas para não voltarmos a ser colônia. Há muito além do que um mero debate sobre direita e esquerda.
Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.
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