Presidente Lula discursa no ato de 2 anos do 8/1. Reprodução YouTube

Em discurso proferido na solenidade que marca o segundo aniversário dos atos golpistas de 8/1, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “ainda estamos aqui, ao contrário do que planejavam os golpistas”, em referência ao plano de golpe de estado de 2022. A data é lembrada como um dos maiores ataques à democracia — o STF (Supremo Tribunal Federal) já condenou 375 réus pelos eventos, com acusações formais contra 1.682 envolvido

“Ainda Estou Aqui” também é o título do filme dirigido por Walter Salles, cuja performance de Fernanda Torres foi premiada com um Globo de Ouro no último domingo (5).

“Hoje é dia de dizer em alto e bom som, ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos, que a democracia está viva, ao contrário do que planejaram os golpistas de 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui, mulheres e homens de diferentes origens e crenças, unidos por uma causa em comum. Estamos aqui para afirmar, em alto e bom som: ditadura nunca mais, democracia sempre”, declarou Lula. “Sempre seremos implacáveis contra quaisquer tentativas de golpe”.

Em tom descontraído, Lula se dirigiu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usando o apelido “Xandão”, amplamente difundido entre o público.

Lula destacou que esse apelido “sempre vai acompanhá-lo” e ainda brincou, afirmando que não adiantaria o ministro ficar bravo com isso.A menção ao apelido veio como parte de um momento mais leve em um discurso que abordava temas sérios, como a defesa da democracia e a importância de combater retrocessos institucionais.

O mandatário ressaltou a importância do papel de Alexandre de Moraes na condução das investigações relacionadas aos ataques às instituições ocorridos em 8 de janeiro de 2023, consolidando o ministro como uma figura central na preservação do Estado de Direito.

Lula enviou mensagens diretas aos militares envolvidos na tentativa de golpe registrada no final do governo de Jair Bolsonaro. Projetando o futuro, defendeu o fortalecimento das Forças Armadas para garantir a soberania do país, sugerindo que tal alinhamento não existia até os eventos de 8 de janeiro. “Ditadura nunca mais”, declarou o presidente.

Ele também reforçou que todos os responsáveis, incluindo militares que atuavam na caserna no fim do mandato de Bolsonaro, serão responsabilizados.

O presidente dirigiu-se diretamente ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e aos chefes das Forças Armadas: o comandante do Exército, general Tomás Paiva; o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno; e o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen.

“Agradeço a José Múcio, que trouxe os três comandantes das Forças Armadas, para mostrar que é possível construir Forças Armadas voltadas à defesa da soberania nacional: nossos 16 mil quilômetros de fronteira seca, quase 5,5 milhões de quilômetros quadrados de mar sob responsabilidade do Brasil, a maior reserva de floresta do mundo, 12% da água doce do planeta, nossas riquezas no subsolo, no solo e no fundo do mar, e, acima de tudo, a soberania do povo brasileiro. Muito obrigado, José Múcio, e aos três comandantes militares”, disse Lula.

Em novembro passado, uma investigação da Polícia Federal, anteriormente sigilosa, revelou uma complexa articulação envolvendo militares da ativa e da reserva para um golpe de Estado em 2022.

Em seu discurso, possivelmente o melhor do 3º mandato, o presidente ainda citou a música “O Bêbado e a Equilibrista”, de Aldir Blanc e João Bosco, que cita nominalmente “Marias” e “Clarices”, em referência a Maria de Souza, mãe de Betinho e Henfil, dois perseguidos pela ditadura militar e a Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 1975 no DOI-Codi de São Paulo.

Leia na íntegra o discurso:

Hoje é dia de dizermos, em alto e bom som, que ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui, mulheres e homens de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias, unidos por uma causa em comum. Estamos aqui para dizer, em alto e bom som: ditadura nunca mais, democracia sempre!

Estamos aqui para lembrar que, se estamos aqui, é porque a democracia venceu. Caso contrário, muitos de nós talvez estivéssemos presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado. E não permitiremos que isso aconteça outra vez. Se hoje podemos pensar de forma diferente e expressar livremente nossos pensamentos, ideias e desejos, é porque a democracia venceu. Do contrário, a única liberdade de expressão permitida seria a do ditador e de seus cúmplices, usada para mentir, semear o ódio e incitar a violência contra quem pensa diferente.

Se hoje estamos aqui, é para renovar nossa fé no diálogo entre opostos, na harmonia entre os Três Poderes e no cumprimento da Constituição. É porque a democracia venceu. Caso contrário, a truculência tomaria o lugar do diálogo, todos os poderes seriam concentrados nas mãos dos fascistas, a Constituição seria rasgada e os direitos humanos seriam suprimidos.

Se hoje podemos nos guiar pela ciência e vacinar nossas crianças, é porque a democracia venceu. Caso contrário, doenças já erradicadas, como o sarampo e a poliomielite, estariam devastando vidas, e novas pandemias repetiriam a tragédia da COVID-19, quando centenas de milhares morreram pela demora na compra de vacinas e pelas fake news contra os imunizantes.

Se as obras de arte estão aqui de volta, restauradas com esmero por homens e mulheres que dedicaram mais de 1.760 horas de suas vidas a essa tarefa, é porque a democracia venceu. Caso contrário, essas obras estariam destruídas para sempre, e tantas outras, como a tela de Di Cavalcanti, teriam o mesmo destino, vítimas do ódio de quem não suporta a arte, a cultura, a história e a memória de um povo.

Estamos aqui porque é preciso lembrar, para que ninguém esqueça e para que nunca mais aconteça. Se hoje podemos contar histórias e vê-las contadas livremente no cinema, no teatro, na música e na literatura, é porque a democracia venceu. Caso contrário, a arte seria submetida à censura, proibindo-nos de ver, ouvir e ler tudo o que julgassem subversivo.

Hoje estamos aqui para garantir que ninguém seja morto ou desapareça em razão de sua causa. Estamos aqui em nome daqueles que não podem mais estar, em nome de todas as Marias, Clarices e Eunices. Democracia para poucos não é democracia plena. Por isso, a democracia será sempre uma obra em construção.

A democracia será plena quando todos os brasileiros, sem exceção, tiverem acesso à alimentação de qualidade, saúde, educação, segurança, cultura e lazer. Quando tiverem as mesmas oportunidades de crescer e prosperar, e os mesmos direitos de sonhar e ser felizes. Quando todos forem iguais perante a lei e a pele negra não for mais alvo da truculência dos agentes do Estado.

Quando os povos indígenas tiverem direito às suas terras, cultura e crenças. Quando as mulheres conquistarem igualdade de direitos e o direito de estar onde quiserem, sem serem julgadas, agredidas ou assassinadas. Quando todas as religiões forem respeitadas e viverem em harmonia. Quando qualquer pessoa tiver o direito de amar quem quiser, sem sofrer preconceito, discriminação ou violência.

Essa é a democracia plena que queremos construir no Brasil. Minhas amigas e meus amigos, a democracia precisa ser cuidada com todo o carinho e vigilância por cada um de nós, sempre. Seremos implacáveis contra qualquer tentativa de golpe. Os responsáveis pelo 8 de janeiro estão sendo investigados e punidos. Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes cometidos, inclusive aqueles que planejaram o assassinato do presidente, do vice-presidente da República e do presidente do STF.

Defendemos e defenderemos sempre a liberdade de expressão, mas não toleraremos discursos de ódio, fake news que coloquem vidas em risco ou incitação à violência contra o Estado de Direito. Seremos intransigentes na defesa da democracia. Renovaremos sempre nossa fé no diálogo, na união, na paz e no amor ao próximo. Seguiremos trabalhando, dia e noite, para construir um Brasil mais desenvolvido, justo e democrático. Porque a democracia venceu. Muito obrigado!

O DCM exibe neste 8/1 uma Live Especial sobre o tema:

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Last Update: 08/01/2025