Em discurso proferido na sessão solene da Câmara dos Deputados em memória aos 77 anos da Nakba, realizada nesta quarta-feira (2), o presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), Ahmed Shehada, denunciou o genocídio em curso contra o povo palestino e exigiu que o Brasil adote medidas concretas contra o regime sionista. A fala, uma das mais contundentes do evento, relacionou as origens do Estado de “Israel” ao terrorismo e defendeu o direito à resistência armada garantido pelo direito internacional.
“A Nakba Palestina não foi um acontecimento isolado ocorrido em 1948, mas o marco inicial de uma catástrofe contínua”, afirmou Shehada, lembrando que a fundação de “Israel” foi realizada por meio da “usurpação violenta das terras palestinas” e da ação de “gangues terroristas sionistas que posteriormente se transformaram no exército mais monstruoso do mundo”.
O dirigente destacou que a ofensiva militar iniciada por ‘Israel’ em outubro de 2023 elevou o massacre a patamares sem precedentes: “Mais de 55.000 palestinos foram identificados mortos, a maioria mulheres e crianças. Dezenas de milhares permanecem sob os escombros ou são considerados desaparecidos e sequestrados”. Denunciou ainda o bloqueio total à Faixa de Gaza – sem água, comida, eletricidade ou medicamentos – como crime de guerra reconhecido por diversas entidades internacionais.
Shehada apontou que mais de dois terços da população de Gaza é formada por refugiados expulsos em 1948 e reforçou o direito de retorno, garantido pela Resolução 194 da Assembleia Geral da ONU. “Eles foram expulsos daquelas terras para as quais tentaram regressar no dia 7 de outubro. São suas vilas, que é um direito conforme estipulado pela Resolução 194”.
Segundo ele, o próprio ingresso de “Israel” na ONU foi condicionado ao cumprimento das resoluções 181 (partilha) e 194 (retorno dos refugiados), o que jamais ocorreu. “’Israel’ não é apenas uma potência ocupante violenta e monstruosa. É também um sistema de apartheid, reconhecido por entidades como Anistia Internacional, Human Rights Watch e até mesmo a organização israelense B’Tselem”, afirmou.
O presidente do Ibraspal denunciou ainda a situação nas prisões israelenses, onde mais de 9.900 palestinos estão detidos, incluindo mais de 250 crianças. Segundo ele, muitos são submetidos a tortura psicológica, física e sexual, enquanto centenas estão presos sob detenção administrativa, sem acusação formal. Shehada também lembrou que os combatentes palestinos detidos devem ser tratados como prisioneiros de guerra conforme a Terceira Convenção de Genebra – direito que “Israel” se recusa a reconhecer.
A fala reforçou o amparo legal da resistência palestina contra a ocupação, citando diversas resoluções da ONU: “é preciso afirmar com base no direito internacional que a resistência de um povo sob ocupação militar estrangeira é legítima. Diversas resoluções afirmam que os povos submetidos à ocupação têm direito à resistência, inclusive armada”.
Ele criticou duramente a tentativa de rotular essa resistência como terrorismo:
“É uma distorção ideológica que visa negar à Palestina o que foi reconhecido a tantos outros povos anteriormente colonizados”.
Encerrando sua intervenção, Shehada convocou o Brasil a romper com a política de conivência e omissão, exigindo medidas práticas contra o regime sionista, nos moldes do boicote internacional ao apartheid sul-africano:
“O Brasil, como nação comprometida com os direitos humanos, deve tomar medidas contra o regime nazi-sionista, apoiar o direito do povo palestino à autodeterminação e exigir a libertação de civis, mulheres e crianças detidos arbitrariamente”.