Dentre os oradores no ato do dia 3 de agosto, em memória de Ismail Hanié e em defesa da Venezuela, fez o uso da palavra o companheiro Ahmed Shehada, presidente da Ibraspal – Instituto Brasil-Palestina.

“Boa noite, companheiros e companheiras,

Eu quero agradecer ao PCO em geral, a vocês [se dirigindo à plateia]. Não tenho palavras para agradecer a vocês. Vocês são únicos, únicos que têm essa coragem e sentimento. Estão fazendo desde 7 de outubro até hoje e não se cansaram. Vocês não são apenas palestinos, vocês são a luta contra o imperialismo, o colonialismo e a opressão.

Eu testemunhei quando o mártir Ismail Hanié falou para o presidente Rui “Vocês são a luta no Brasil”. Ele falou aquilo que pensava, não era apenas elogio. A nossa luta é comum, a nossa luta contra o imperialismo, o colonialismo e a opressão é a mesma. E assim, juntos, é que podemos derrotar o imperialismo.

Não há diferença entre islamismo, comunismo, trotskismo. Isso não faz muita diferença, não faz nada de diferença na luta, temos um inimigo comum, para o qual somos todos considerados inimigos e nos quer eliminar e exterminar. E ele terá sucesso se nós não ficarmos unidos, por isso a nossa união é muito importante. Esqueçamos as ideologias que são coisas irrelevantes.

Esses atos internacionais que estão acontecendo em alguns países, foram convidados pelo martír Ismail Hanié. Foi ele que fez esse convite, mandou para todo o mundo árabe e todos os povos livres do mundo, saírem no dia 3 de agosto em solidariedade ao povo de Gaza que está sofrendo um genocídio sem precedentes.

Nossos prisioneiros merecem muita solidariedade, há muito sofrimento. Tínhamos menos de seis mil prisioneiros; foram mais nove mil levados, sequestrados da Cisjordânia, e quase cinco mil de Gaza, mulheres, crianças e homens, que passam um sofrimento que não foi registrado ainda em nenhuma história. Passam tudo o que você imagina e não imagina. Me desculpe por falar alguma coisa que agora algo que uma mente normal não pode imaginar: eles treinam cachorros para estuprar seres humanos. Eles fazem e temos já registrados muitos casos. É isso que acontece nas prisões israelenses.

A violação sexual, para vocês saberem, contra mulheres e contra homens, foi admitida alguns dias atrás no parlamento, na comissão que discutiu sobre isso, [foi perguntado] “Você acha que é legítimo estuprar homem dentro da prisão?” Foi essa pergunta, e a resposta que deram foi “Se for do Hamas, sim”. Eles legitimam o estupro de homens e de mulheres. Temos testemunhos.

Por uma questão social, e de mentalidade, muitas mulheres não vão assumir o estupro. Nesta semana eu estava em uma conferência e ouvi muitas testemunhas, e várias organizações dos direitos humanos já têm evidências de muitas pessoas, muitas mulheres – que eles não querem mencionar para respeitar a privacidade – que foram estupradas em frente de outros homens palestinos e em frente de outros soldados. Isso Israel faz, e eles sabem que o mundo sabe disso. Mas eles sabem também que estão acima de qualquer lei e responsabilidade.

Nossos prisioneiros merecem muita solidariedade, há muito sofrimento. Tínhamos menos de seis mil prisioneiros; foram mais nove mil levados, sequestrados da Cisjordânia, e quase cinco mil de Gaza, mulheres, crianças e homens, que passam um sofrimento que não foi registrado ainda em nenhuma história. Passam tudo o que você imagina e não imagina. Me desculpe por falar alguma coisa que agora algo que uma mente normal não pode imaginar: eles treinam cachorros para estuprar seres humanos. Eles fazem e temos já registrados muitos casos. É isso que acontece nas prisões israelenses.

Podemos falar algumas palavras sobre a nossa resistência. A nossa resistência, o que é o eixo da resistência em Gaza são as Brigadas al-Qassam do movimento Hamas. Estive na Turquia recentemente e tive contatos com as pessoas. Dez meses passados, todo o Ocidente, os Estados Unidos com toda a sua força, satélites, aviões, não apenas prestam apoio, estão envolvidos em campo, há soldados dos Estados Unidos em campo. Aviões dos Estados Unidos bombardeiam Gaza, aviões franceses bombardearam Gaza. Todos, todos contra essa pequena Gaza que tem 300 mil metros quadrados, não conseguiram chegar aos líderes da resistência e aos prisioneiros mantidos como reféns.

O que eles fazem é a matança de crianças, matança de civis, como castigo e como uma pressão contra a resistência. Como eles não podem chegar na resistência, eles matam civis. Isso não é apenas a nossa narrativa. A Organização Mundial de Saúde confirmou os números que o Ministério de Gaza são todos confirmados. Eles fizeram muitas comissões para confirmar os números. Por isso os números são sem erro. Além do que está muito abaixo dos números de estudo da Lancet, que é uma revista científica que não publica opiniões, publica apenas pesquisas científicas. É muito confiável. Eles consideram que 180 mil palestinos civis foram mortos em Gaza de 8 de outubro até hoje. Não todos por bomba, mas alguém que é diabético e não tem remédio. Alguém que tem câncer e não toma isso… alguém que ficou com hepatite. Temos uma epidemia ampla em Gaza de hepatite agora porque não existem condições [sanitárias]. Não há condição para transfusões, vacinas, não tem condições para nada. Não tem água.

Eu digo isso porque tenho toda a minha família lá. Meu filho está ali, sobrinhos e sobrinhas no norte de Gaza. Meu sobrinho disse para mim que após alguns dias conseguiu três tâmaras, e a cada três dias come uma para ter um pouco de energia e não morrer. Essa é a situação em Gaza. Eu não sei como alguém pode ficar calado assistindo isso. Só vocês que têm coragem de sair às ruas para levar a voz daqueles sofridos em Gaza.

Não podemos falar apenas das vítimas, do sofrimento, e não falar da resistência, isso não pode ser separado. A resistência não existe por acaso, como falou o secretário geral da ONU. Enquanto houver sofrimento, vai haver resistência.

A mensagem da resistência, recentemente em julho, do comando da resistência, declarou que “sobre nós, se a guerra continua por mais um ano, vocês não pensem em nós, a gente vai resistir; eles [os sionistas] não vão chegar para nada”.

Se a gente morrer… todo ser humano tem limites. Todo o Ocidente contra eles, e todo mundo está traindo a eles. Há apoio de palavras, mas não apoio concreto. Eles disseram “Enquanto o último de nós não morrer, não recuem nas negociações”. “Há dois fatores que vocês podem utilizar nas negociações: nosso povo, o quanto pode resistir, e aquelas exigências políticas que vocês estão negociando. Retirada do exército, retirada do bloqueio, essas coisas”. “Quanto a, eles vão morrer, eles vão ser destruídos, esqueçam isso”. Essa foi a mensagem da resistência que está resistindo heroicamente por dez meses contra o mundo inteiro. O mundo inteiro, os imperialistas, são unidos. Infelizmente, nós não estamos unidos.

Por fim, o Ismail Hanié partiu. Eu o conheci anteriormente, e nossos companheiros foram visitá-lo. Viram que ele era uma pessoa muito humilde, uma pessoa do povo. Ele esperava isso. E como também falou João Jorge aqui, a mídia tentou queimá-lo usando seus filhos, como se estivessem em hotéis de cinco, sete estrelas, mas vimos que os filhos deles estavam nos campos de refugiados. E no último dia das comemorações, foram assassinados três filhos, três netas. Nove pessoas, netos e filhos foi o que ele perdeu antes de partir como mártir.

Depois, a família do irmão, e também sobrinhos. Família da irmã, e também com sobrinhos foram mais dez. Perdeu quase cinquenta pessoas da sua família e não recuou. Agora, o movimento vai se quebrar? Isso é uma conquista para Israel matar alguém? Claro que não.

Fundadores – Ismail até que não foi dos primeiros fundadores –, todos os fundadores foram martirizados e cada vez o Hamas ficou mais forte. Meu irmão foi um dos seis fundadores do movimento e se tornou um mártir. E foi martirizado com sua família, sua filha, sua esposa e mais um monte de pessoas. Sete prédios caíram quando bombardearam para matá-lo. Ele foi um dos principais, foi a segunda pessoa depois do Ahmad Yassin, consideravam que ele seria um dia o líder do Hamas. Ele é o fundador do braço armado do Hamas que agora está dando uma lição em Israel e no imperialismo. Foi ele embora e o Hamas não ficou mais fraco, pelo contrário, o Hamas ficou mais forte. Depois dele, todos líderes do movimento e de outros partidos foram assassinados. Vários líderes do Hezbolá, recentemente o seu líder militar. Por acaso o Hezbolá vai ficar mais fraco? Claro que não.

Não depende de uma pessoa. Existe um sistema. No Hamas existe hierarquia e um sistema, se sai uma pessoa, uma outra está preparada ali para continuar o caminho e tem fé. O inimigo mesmo reconheceu. Hagari, que é o porta-voz do exército terrorista dos sionistas, falou recentemente que “aquele que acha que podemos destruir o Hamas está iludido”. Após nove meses, falou isso no mês passado, ele pôde entender que é ilusão que se possa destruir o Hamas. Mas é isso mesmo, o Hamas existe nos corações de todo o povo palestino e no coração de todos os povos livres, igual a vocês. Vocês são uma continuidade do Hamas.

A imprensa, esses dias, disse que o Hamas já decidiu escolher o novo presidente em exercício. Li, na imprensa, mas como não havia como eu me comunicar diretamente. Hoje à tarde, porém, saiu a comunicação oficial do Hamas. Não, não existe ainda presidente em exercício. Estão fazendo reuniões e não é muito importante agora, pois há ali uma presidência coletiva. Tem o diretório executivo do Hamas que fica representado pelo terço de Gaza, terço da Cisjordânia e o terço da Diáspora [palestinos no exílio]. Não atrapalha em nada a ausência de alguém. Nos causa tristeza, indignação. Eu chorei anteontem por isso, fiquei muito indignado. Isso é uma coisa normal. Quando morreu meu irmão foi a mesma coisa. Mas eu sabia também que isso [a luta] não vai parar, vai ficar mais forte. Também acredito que Hamas será muito mais forte, se Deus quiser, e a luta continua.

Por enquanto não temos ainda o presidente, isso deverá ser decidido nos próximos dias. Temos um sistema muito democrático, da base até o presidente. Hamas é o primeiro partido palestino que respeita a democratização dentro do partido desde a base, que tem direito de escolher até o presidente. H

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Last Update: 05/08/2024