As mudanças climáticas estão intensificando eventos extremos ao redor do mundo e Minas Gerais tem sido palco de algumas das mais severas consequências desse fenômeno. Nos primeiros dias de janeiro de 2025, pelo menos 41 cidades do estado decretaram situação de emergência ou estado de calamidade pública em razão de enchentes devastadoras. Segundo boletim da Defesa Civil divulgado em 4 de janeiro, 11 pessoas perderam a vida devido aos temporais, que se iniciaram ainda no final de 2024. Além disso, 1.225 indivíduos foram desalojados e 173 ficaram desabrigados, necessitando de abrigos públicos e assistência emergencial.

Esse cenário evidencia a urgência de políticas climáticas eficazes para mitigar os impactos desses desastres que afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. A urbanização desordenada e a flexibilização das leis ambientais têm permitido que grandes empresas, especialmente mineradoras, operem sem o devido licenciamento ambiental. Essa permissividade intensifica a degradação do território e expõe comunidades inteiras a riscos cada vez maiores. A fiscalização ambiental tem sido enfraquecida nos últimos anos, dificultando a prevenção de catástrofes e tornando o cenário ainda mais preocupante.

Na capital do estado, Belo Horizonte, exemplos clássicos de intervenção urbana desastrosa são a canalização e a cobertura de rios por avenidas, como ocorre com o Córrego do Leitão. Essas ações, somadas à crescente impermeabilização do solo, dificultam a absorção natural da água da chuva, aumentando significativamente o risco de inundações. A cidade, que já possui parte de seu território sob risco geológico, enfrentava, até pelo menos 7 de janeiro de 2025, alertas de risco forte na região noroeste, segundo a Defesa Civil.

O impacto das enchentes e dos desastres climáticos é amplificado pelas desigualdades sociais e pela ausência de políticas públicas de moradia digna. Comunidades de baixa renda são frequentemente forçadas a ocupar áreas de risco, como encostas e margens de rios, pois não há alternativas habitacionais seguras e acessíveis. Nessas regiões, a falta de infraestrutura adequada torna as consequências das enchentes ainda mais severas. As perdas humanas e materiais decorrentes desses eventos não são apenas trágicas, mas também previsíveis, pois resultam de um modelo de ocupação urbana que privilegia interesses privados em detrimento do bem-estar coletivo.

A frequência e a intensidade desses eventos extremos estão alinhadas com as projeções científicas sobre os impactos das mudanças climáticas. Um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais estimou que, entre 2020 e 2023, o Brasil sofreu prejuízos de 45,9 bilhões de reais devido a eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais, enchentes, estiagens prolongadas e ondas de calor. O setor agropecuário foi um dos mais afetados, evidenciando a vulnerabilidade da economia brasileira às variações climáticas. No entanto, os prejuízos econômicos não se limitam ao campo. Pequenos comerciantes e trabalhadores informais também sofrem diretamente com a destruição de suas fontes de renda, perpetuando o ciclo de pobreza e exclusão social.

O enfrentamento da crise climática e das enchentes não pode ser dissociado da luta por justiça social. As populações periféricas, historicamente negligenciadas pelo poder público, são as primeiras a sofrer com a devastação das chuvas. A adoção de políticas preventivas e adaptativas, aliadas à participação ativa da sociedade civil, é fundamental para romper esse ciclo de destruição. Planejamento urbano sustentável deve ser prioridade, garantindo que áreas de risco sejam reassentadas de forma segura e digna, ao invés de simplesmente responsabilizar as vítimas pelas tragédias.

O cenário exige a implementação de políticas públicas estruturantes que envolvam planejamento urbano sustentável, fortalecimento da fiscalização ambiental e investimentos em infraestrutura verde. Experiências internacionais mostram que cidades resilientes às mudanças climáticas adotam estratégias como a descanalização de rios, criação de áreas verdes e expansão de redes de drenagem ecológicas. Além de reduzirem os impactos das enchentes, essas soluções promovem melhor qualidade de vida para a população e contribuem para a preservação ambiental.

Outro fator crucial na mitigação dos impactos das mudanças climáticas é a integração entre políticas ambientais e de saúde pública. Enchentes e desastres ambientais frequentemente resultam na proliferação de doenças respiratórias e infecciosas, agravando a vulnerabilidade das populações afetadas. Assim, torna-se ainda mais urgente a criação de medidas que garantam saneamento básico adequado, monitoramento epidemiológico e suporte emergencial às comunidades atingidas.

Apesar dessas necessidades evidentes, a implementação de políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas ainda é insuficiente. Até janeiro de 2025, apenas oito estados brasileiros possuíam planos de adaptação às mudanças climáticas, destacando a necessidade urgente de uma abordagem mais abrangente e coordenada em nível nacional. A falta de planejamento adequado e a inação governamental contribuem para a repetição cíclica dessas tragédias, tornando a reconstrução das cidades e a recuperação econômica um desafio constante.

Os eventos climáticos extremos não são meramente desastres naturais inevitáveis. Eles são, em grande parte, resultados de decisões políticas e econômicas que priorizam o lucro em detrimento da vida. A tragédia das enchentes em Minas Gerais e em diversas outras partes do Brasil não pode ser vista como um evento isolado, mas como um reflexo de um modelo de desenvolvimento insustentável. Somente com mudanças concretas, fortalecendo o planejamento urbano e a proteção ambiental, será possível construir cidades verdadeiramente resilientes e inclusivas.

O investimento em políticas de adaptação e mitigação dos impactos climáticos não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma questão de justiça social e sobrevivência coletiva. Enquanto os governantes não colocarem essa pauta como prioridade, a população seguirá pagando um preço alto por um modelo de desenvolvimento que favorece poucos e penaliza muitos. O futuro das cidades depende de decisões tomadas hoje, e é essencial que essas escolhas sejam feitas com responsabilidade, considerando o direito à moradia segura, à infraestrutura adequada e à proteção ambiental como pilares fundamentais para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.

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Last Update: 11/02/2025