
A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu que a Polícia Federal investigue publicações de bolsonaristas que espalham desinformação sobre o Banco do Brasil. O acionamento ocorreu após o envio de notícia-crime do BB à AGU, que aponta práticas atribuídas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a aliados próximos. A instituição financeira afirma que as mensagens divulgadas têm potencial de causar instabilidade no sistema bancário.
A AGU destacou que o objetivo da investigação é apurar a materialidade e a autoria das condutas, que podem estar relacionadas a inquéritos já em andamento no Supremo Tribunal Federal. Segundo o órgão, as publicações sugerem falsamente que o Banco do Brasil corre risco de falência devido a supostas sanções da Lei Magnitsky, legislação americana que impõe restrições a pessoas e entidades listadas.
As postagens, divulgadas desde a semana passada, incentivam clientes a vender ações e retirar recursos do BB. A ofensiva inclui ataques ao ministro Alexandre de Moraes, que teve cartões de bandeiras americanas cancelados por determinação dos emissores após ser incluído nas sanções da Magnitsky. O banco público é responsável pela folha de pagamento de servidores do STF, o que, segundo a AGU, evidencia o caráter político das publicações.
⚠️ ALERTA DE FAKE NEWS: Campanhas coordenadas estão divulgando desinformação sobre o Banco do Brasil nas redes, afirmando que o banco pode falir por causa da Lei Magnitsky
Uma das contas que está espalhando a desinformação é a do filho do ex-presidente Bolsonaro, Eduardo… pic.twitter.com/V7QjBSSu4s
— Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) August 25, 2025
Em ofício enviado no final de semana à Advocacia-Geral da União (AGU), o Banco do Brasil (BB) afirmou que há uma ação coordenada de disparo massivo de mensagens destinadas a provocar medo na população. O órgão alertou para o risco de uma corrida bancária que poderia abalar a economia nacional. A instituição ressaltou ainda que as condutas buscam associar um eventual colapso financeiro às atividades do STF, numa tentativa de constranger o Judiciário, além de gerar caos.
O BB pediu que a AGU adote “medidas jurídicas cabíveis” para barrar “danos potenciais e já causados” aos bancos brasileiros. Também afirma que propagadores de informações falsas podem ter cometido crimes contra a soberania nacional; contra o Estado Democrático de Direito; contra o sistema financeiro; além de violação de sigilo bancário e difamação.
“Ameaças direcionadas a minar recursos internalizados no Banco do Brasil, por intermédio da disseminação de fake news quanto à existência de sanções estrangeiras ou bloqueio de ativos de magistrados da Suprema Corte, comprometem a estabilidade da ordem econômica, financeira e social; comprometem o desenvolvimento econômico equilibrado do país”, diz o BB.
“O cenário de risco é que, do dia para a noite, e cada vez mais, surgem especialistas em Lei Magnitsky, formados em redes sociais, que recomendam a retirada de recursos de bancos brasileiros, especialmente do Banco do Brasil, controlado pelo Estado brasileiro. Esse raciocínio enviesado, que pode fomentar uma corrida de clientes para a retirada de recursos, sem qualquer conhecimento de causa, gera tensão em seus clientes e risco à economia nacional”.
O ofício do Banco do Brasil cita nominalmente Eduardo Bolsonaro, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) e o advogado Jeffrey Chiquini, defensor do ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), Filipe Martins. O documento menciona possíveis crimes contra a soberania nacional, o Estado Democrático de Direito, o sistema financeiro e até difamação. O banco também relatou ter recebido questionamentos de clientes preocupados com as falsas informações.
“Os fatos, como se vê, são gravíssimos. E as possíveis e indesejáveis consequências também, caso não sejam imediatamente prevenidas, evitadas e severamente reprimidas. Após o impulsionamento massificado de fake news, clientes do Banco do Brasil apresentaram pedidos de esclarecimentos pelo temor de sanções secundárias falsamente propagadas”, conclui o BB.
Procurado, Jeffrey Chiquini declarou que sua fala se referia apenas à realocação de investimentos, uma prática legítima no mercado. Ele negou que suas declarações tenham configurado ilícito penal, afirmando que apenas mencionou aspectos previstos na legislação americana.
Em nota, a assessoria do deputado federal Gustavo Gayer disse que o parlamentar fez comentários que não citam “qualquer instituição diretamente”. “Gayer fez um comentário acerca das consequências da fala de Moraes que poderiam, essas sim, levar a um colapso nos bancos brasileiros”, afirmou.
Eduardo Bolsonaro não se manifestou até o momento.