Levantamento inédito do grupo de pesquisa De Olho nos Ruralistas identificou 142 empresários do agronegócio envolvidos diretamente na tentativa de golpe de Estado no país em 2023. Impunes, eles não constam na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por patrocinar e atuar na logística do golpe.

São empresários do agronegócio que financiaram a intentona golpista de 8 de janeiro daquele ano, para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder e derrubar o atual presidente Lula, o que incluiu dentro do governo Bolsonaro planejamentos de assassinato do atual presidente, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, conforme revelaram as investigações da Polícia Federal e a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Argino Bedin lidera clã que mais contribuiu com envio de caminhões ao QG do Exército, em Brasília. (Foto: Alan Santos/PR)

O plano de golpe de Estado intitulado “Punhal Verde e Amarelo”, envolvendo membros das Forças Armadas e o alto escalão do governo Bolsonaro, tinha um financiador: o “pessoal do agro”.

Foi o que disse o ex-Ajudante de Ordens, Mauro Cid, principal delator da tentativa de golpe. Mascarados, os empresários do agronegócio foram revelados em ampla investigação do De Olho nos Ruralistas, divulgada nesta semana.

Identificados como “agrogolpistas”, eles financiaram e atuaram a logística e os atos golpistas entre o segundo semestre de 2022 e o 8 de janeiro de 2023, quando uma mutidão de bolsonaristas invadiu a sede dos Três Poderes, objetivando derrubar o governo recém eleito.

O dossiê publicado revela, ainda, o nome dos bancos e de grupos econômicos diretamente ligados a estes empresários, que receberam recursos de instituições como Santander, Rabobank e John Deere. E possuem contratos de fornecimento e parceiras com gigantes como BTG Pactual e Syngenta — esta última, parte da cadeia de financiamento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

“O dado mais alarmante diz respeito à responsabilização: salvo aqueles (poucos) que foram flagrados nos atos terroristas de 8 de janeiro, nenhum dos nomes respondeu juridicamente pelo fomento ao golpe de Estado”, traz o documento.

De posse de quase 1.500 nomes, o observatório investigou cada um dos investigados nos atos golpistas para traçar suas relações com o Agronegócio, ao longo de 4 meses. Foram incluídos na lista os financiadores dos atos, os réus responsabilizados criminalmente em inquéritos do STF sobre o 8 de janeiro e os indiciados na Operação Lesa Pátria.

Ao todo, 142 fazendeiros e empresários do agronegócio foram identificados. O dossiê ressalta, ainda, que os números ainda devem estar subestimados, devido a falta de dados e informações relacionados a todos os apontados da lista.

Algumas informações constatadas no Dossiê mostram que:

  • Dos 142 fazendeiros e sócios de empresas identificados no levantamento, 74 estão baseados em Mato Grosso, 17 em Goiás e 13 na Bahia. A relação com o agronegócio é escancarada: juntos, eles compõem o principal corredor produtivo da soja no país, responsável por 47% da safra nacional.
  • Desse eixo, saiu a maior parte dos caminhões estacionados ao QG do Exército em Brasília para o fatídico 8 de janeiro. 56 dos 234 caminhões enviados ao acampamento golpista tinham origem em Sorriso (MT), o maior polo produtor de soja do mundo.
  • Desse total, 28 pertencem a duas famílias que se interligam. Com dez nomes na lista, o clã Bedin – liderado por Argino, conhecido como “pai da soja” de Sorriso (MT), e se calou na CPMI dos atos golpistas no Senado, enviou quinze caminhões para a capital federal. Unidos aos Bedin pelos negócios e pelo casamento, os Lermen enviaram treze veículos para o QG golpista.
  • 6 empresários investigados em processos do 8 de janeiro e atos golpistas são dirigentes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), uma das organizações fundadoras do Instituto Pensar Agro (IPA), o braço logístico da bancada ruralista no Congresso.
  • Neste grupo, está Christiano da Silva Bortolotto, ex-presidente da Aprosoja de Mato Grosso do Sul e do Sindicato Rural de Amambai (MS), onde protagoniza um conflito histórico contra o povo Guarani-Kaiowá do Tekohá Kurusu Ambá.
  • Nenhum dos fazendeiros suspeitos de financiar os atos golpistas foi preso ou condenado por esta razão. Os fazendeiros indiciados na CPMI do Senado e os donos dos caminhões flagrados no QG do Exército não integraram a denúncia da PGR.

Leia a íntegra do relatório:

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Last Update: 27/06/2025