Foto: Diangela Menegazzi

Por Karina Ernsen, do Coletivo de Comunicação da Jornada 
Da Página do MST

Cuidar da terra também significa cuidar das pessoas. Foi com essa inspiração que o Setor de Saúde da 22ª Jornada de Agroecologia do Paraná esteve presente mais uma vez em um dos maiores encontros de agroecologia do país, que aconteceu até este domingo (10), no Campus Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba (PR). Neste ano, a Tenda da Saúde reuniu quatro benzedeiras, além de atendimentos de auriculoterapia, massoterapia, reflexologia podal, ventosaterapia e orientações sobre fitoterapia e uso de ervas medicinais. A maior parte dos atendimentos foi realizada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vindos de assentamentos e acampamentos de diversas regiões do Paraná.

O espaço recebeu o nome de “Luísa Aparecida”, em homenagem a uma das fundadoras do Setor de Saúde Popular do MST no estado. “Ela foi uma grande companheira, batalhadora e referência na luta pela saúde popular e do campo. O nome foi uma forma de manter viva a memória e a dedicação dela na busca por melhores condições de vida para todas e todos”, explicou Sirlei Moraes, dirigente do Setor no Paraná.

Sirlei conta que a Tenda da Saúde funcionou desde o dia 6 e ofereceu atendimentos durante todo o evento, chegando a atender mais de 150 pessoas por dia, que recebiam benzimento, escuta atenta, carinho e orientações para o cuidado com a saúde. “Nossas companheiras se organizaram por meses, produziram fitoterápicos, coletaram e secaram ervas, prepararam benzimentos e definiram as escalas de trabalho. As pessoas levavam consigo a alegria e a troca vivida no espaço, deixando também a própria energia”, relata.

Entre as benzedeiras presentes esteve Dona Vera Lúcia da Silva Francisco, integrante do Acampamento Zilda Arns, em Florestópolis, que há cerca de 50 anos mantém viva a tradição de benzer. Seu primeiro atendimento foi em 1973, quando cuidou de uma criança com uma doença popularmente chamada de “mal de simioto”. “Eu cuidei, dei mamadeira, e ela melhorou. A partir daí, nunca mais parei. Se fosse de madrugada, chovendo ou longe, eu ia. Era minha missão ajudar quem precisasse”, contou.

Dona Vera e as ervas medicinais Foto: Diangela Menegazzi

Dona Vera também prepara pomadas, xaropes, garrafadas e banhos com ervas medicinais, atendendo demandas que vão de dores musculares a questões de saúde sexual e reprodutiva. Ela reforçou a importância do acesso à terra e à agroecologia para manter a prática. “As plantas, a água, tudo vem da natureza. Lá onde moro temos água de mina, que é pura e segura. É a primeira coisa que penso ao fazer um remédio: se a água não for boa, não serve. A qualidade vem da terra e a terra precisa ser cuidada”, afirmou.

Para ela, a Jornada foi um momento único de troca e valorização da cultura popular. “Do dia que cheguei até agora já benzi 107 pessoas. Se estivesse em casa, não teria atendido tanta gente. Aqui conheci mais pessoas, ajudei mais e também aprendi. Foi gratificante demais”, disse Dona Vera, que, aos 73 anos, segue ativa cuidando de sua horta e produzindo seu próprio adubo com folhas e restos vegetais.

Também integrante do MST, Elza Borges também esteve na Tenda e reforça o papel do espaço para o bem-estar de quem construiu o evento. “Atendemos a nossa companheirada que contribuiu e trabalhou para que pudéssemos ter saúde e desenvolver as nossas atividades sem sentir dor. Quando a gente vem para o espaço de saúde e bem-estar do MST, a gente vem para aprender e ensinar. Fazemos essa troca, esse diálogo com a sociedade, porque, afinal, os nossos feirantes são todas as pessoas que vieram do campo e trouxeram os fitoterápicos. São produtos que vêm da terra, onde colhemos as plantas e transformamos em tinturas.”

O Setor de Saúde Popular do MST defende que o cuidado integral envolve corpo, mente e ambiente, valorizando práticas tradicionais, saberes populares e terapias naturais. “A saúde começa no prato, com alimentos saudáveis e livres de veneno, mas também está no cuidado com as relações, com a mente e com a terra. A Tenda da Saúde foi um espaço de acolhimento, escuta e tratamento, que mostrou que a luta por reforma agrária e por agroecologia também é uma luta pela saúde de todos e todas”, concluiu Sirlei Moraes.

A Tenda da Saúde é um lugar de trocas, carinho e cuidados. Foto: Diangela Menegazzi

A 22ª Jornada de Agroecologia do Paraná foi organizada por uma ampla articulação de movimentos, organizações e universidades, e reuniu centenas de agricultores e agricultoras, pesquisadores, estudantes e apoiadores da agroecologia. Além da Tenda da Saúde, contou com feira de produtos orgânicos, apresentações culturais, debates e oficinas, celebrando a união entre campo e cidade na construção de um futuro com mais saúde e respeito à terra.

Gratidão em Semente e Cura
Por Pai Celio benzedor

Entre barracas, tendas, sementes e sorrisos,
caminhamos lado a lado,
mulheres e homens de mãos abertas,
tecendo cuidado como quem semeia esperança terna.

Na roda da vida, fomos remédio e abraço,
escutando dores, partilhando saberes,
recolhendo no olhar uns dos outros
a força que nasce da terra e do afeto sensato.

Na 22ª Jornada, fomos mais que presença:
Cura heike chá benzimento Quick ervas massagem
fomos ponte, fomos canto,
fomos a mão que acolhe e o coração que pulsa
ao ritmo da saúde que é do povo e para o povo que luta.

Hoje, ao encerrar este ciclo,
não fechamos a porta,
abrimos caminhos —
porque cada gesto de cuidado é semente
que germina no amanhã de gente que ama gente.

Gratidão a cada passo,
a cada palavra,
a cada vida tocada.
Seguimos, juntos,
curando o mundo com agroecologia, amor e resistência,
Viva a saúde popular.

Canto
Saúde mãe terra, venha nos ajudar (repete)
Somos amor
Somos cuidado
Somos saúde popular.

*Editado por Fernanda Alcântara

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Governo Lula,

Last Update: 14/08/2025