Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: Reuters

A revista britânica The Economist classificou as recentes medidas do governo dos Estados Unidos contra o Brasil como uma das mais graves intervenções norte-americanas na América Latina desde a Guerra Fria. A publicação trata o pacote de sanções, incluindo uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras e a suspensão de vistos para ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), como uma “agressão chocante” promovida por Donald Trump.

Segundo a revista, o estopim teria sido a cúpula do Brics realizada no Rio de Janeiro no início de julho. A presença de Lula como anfitrião do encontro e a projeção internacional do grupo irritaram a Casa Branca. A publicação lembra que Trump e Lula são adversários ideológicos e que aliados do republicano criticam há tempos as investigações do STF sobre desinformação nas redes, comandadas por Alexandre de Moraes.

A Economist afirma que a resposta do STF, com imposição de tornozeleira eletrônica e restrições a Bolsonaro, também foi considerada “agressiva”. Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado e está proibido de usar redes sociais desde a decisão.

No entanto, a revista avalia que a reação de Trump tem gerado o efeito contrário ao pretendido. A ofensiva teria fortalecido a posição de Lula, que voltou a crescer nas pesquisas e lidera a corrida eleitoral de 2026. “Brasileiros de todos os tipos estão apoiando Lula”, diz o texto, apontando que até setores conservadores têm se manifestado contra as tarifas impostas pelos EUA.

A Economist também destaca que o Congresso brasileiro, mesmo com maioria de direita, passou a demonstrar apoio a Lula e estuda medidas de retaliação comercial. A reportagem lembra que produtos como carne, café e suco de laranja — exportados por regiões que apoiam Bolsonaro — serão diretamente atingidos, o que explica a reação negativa de setores tradicionalmente alinhados ao ex-presidente.

Donald Trump anunciando o tarifaço. Foto: reprodução

A confederação de agricultores do Brasil, por exemplo, classificou as tarifas como motivadas por razões políticas. Até o próprio Bolsonaro tentou se afastar do tema: “Não tem nada a ver conosco”, teria afirmado.

Outro ponto sensível citado na reportagem foi o ataque ao Pix. A publicação ressalta que o sistema reduziu custos no setor bancário e abriu espaço para startups, ameaçando o domínio de empresas como Visa e Mastercard. A revista sugere que essa perda de influência também está por trás da postura agressiva dos EUA.

Embora reconheça que o Brasil mantém práticas protecionistas e subsídios industriais, a Economist aponta que esse não parece ser o motivo real das sanções. O governo brasileiro teria tentado negociar com a Casa Branca desde maio, mas os contatos foram ignorados.

O episódio, segundo a revista, revela um uso deliberado da política comercial norte-americana para fins eleitorais e geopolíticos, em um movimento que remete aos tempos mais tensos da Guerra Fria.

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Last Update: 25/07/2025