O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI. Foto: Carolina Antunes/PR

Uma agenda apreendida da posse do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Jair Bolsonaro, traz registros de reuniões, dados sigilosos e anotações sobre operações da Abin e movimentações do governo passado. O documento integra o inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado, atualmente em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

O documento da agenda possui cerca de 200 páginas e revela detalhes sobre a percepção de Heleno em relação à gestão de Bolsonaro, à atuação da Abin e à Polícia Federal, além de registros de espionagem e proteção a familiares do então presidente.

Entre os registros, há menção ao monitoramento de estudantes cubanos na Universidade de São Paulo (USP). Em uma anotação datada de 25 de janeiro de 2022, Heleno descreve que a Abin estaria “levantando cubanos, infiltrados na USP, para espionagem da área estudantil”.

Anotação na agenda de Augusto Heleno cita monitoramento de “cubanos” na USP. Foto: Reprodução

A agenda também contém anotações sobre investigações financeiras e políticas. Em fevereiro de 2020, o general registrou que a Abin deveria “investigar o Coaf”, em referência ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras, responsável por apurar movimentações suspeitas no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Durante a pandemia de Covid-19, Heleno comentou sobre a postura de Bolsonaro, apontando a necessidade de vacinação e descrevendo um “rombo na popularidade” do presidente. Ele registrou que o então chefe da República “desdenha do vírus” e que “nada está bom”, reforçando críticas à condução do governo em relação à saúde pública.

Heleno escreveu que Bolsonaro teria que “tomar vacina” e citou queda de popularidade na pandemia. Foto: Reprodução

O general também citou a Polícia Federal em suas anotações. Em um trecho, Heleno afirma que a corporação estava “preparando uma sacanagem grande”, sem detalhar o contexto. Em outro ponto, ressaltou que a corporação deveria ser subordinada ao presidente e questionou ações legais.

A relação entre Bolsonaro e a Polícia Federal foi motivo de desgaste durante seu governo. O ex-ministro Sergio Moro deixou o cargo em 2020 alegando interferência do presidente na instituição. Reuniões ministeriais revelaram que o então presidente defendia mudanças no comando da corporação do Rio para proteger familiares e aliados de investigações em curso.

Polícia Federal preparava “sacanagem grande”, mas não detalhou objetivo da corporação. Foto: Reprodução

A agenda de Heleno registra também episódios envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho 04 do ex-presidente, e supostos presentes de grupos empresariais, como um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil. A apuração sobre o caso foi vinculada a uma investigação da chamada Abin paralela, segundo a PF, que teria sido usada para proteger o 04 de suspeitas de tráfico de influência.

Quando a PF iniciou investigações sobre Jair Renan, a Abin teria monitorado o ex-parceiro comercial e personal trainer do filho do presidente, segundo relatos do próprio Heleno. A atuação da agência de inteligência evidencia como estruturas de segurança foram utilizadas em assuntos relacionados à família presidencial.

Anotações de Augusto Heleno sobre Jair Renan, o filho 04 de Bolsonaro. Foto: Reprodução

Heleno anotou em seu caderno que, apesar de notícias da imprensa sobre o uso do veículo pelo filho do presidente, o carro estava sob a posse de outra pessoa. Segundo ele, “é atribuição da Abin verificar um fato” quando envolve a segurança de familiares do chefe do Executivo.

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Last Update: 14/08/2025