Desde que assumiu a presidência nacional do PSDB, o deputado federal Aécio Neves (foto/ Marina Ramos/Agência Câmara de Notícias) tem se movimentado para viabilizar um projeto de futuro para o país envolvendo outras legendas mais ao centro. Ele tem feito algumas alterações nos diretórios do partido nos estados para fortalecer a legenda partido e chegar a 30 deputados federais na próxima eleição para manter o partido ativo. Mas o seu futuro ainda é incerto. Ele não sabe se vai disputar mais um mandato no ano que vem, mesmo sinalizando para alguns que pode se despedir da política encarando mais uma vez uma disputa à presidência da República.
Como o senhor avalia esse imbróglio que está acontecendo entre o governo e Congresso Nacional. O PSDB vai se posicionar em relação ao que está acontecendo?
O PSDB é crítico a ação do governo do PT desde sempre, desde muito antes, até do Bolsonaro, como representante de um segmento político, existisse. Nós temos uma discordância profunda em relação ao modus operandi do PT. Esse aparelhamento gigantesco da máquina pública, essa leniência, essa irresponsabilidade para com os gastos públicos, essa visão atrasada de mundo. Sempre se alia a ditaduras amigas. Essa falta de responsabilidade com o resultado nas gestões. E nós continuaremos sendo sempre oposição ao PT, mas é uma oposição que não se nega a votar determinadas matérias que são de interesse do país. O que eu tenho percebido é que há um distanciamento cada vez maior do PT em relação as pautas de interesse do país, para votar uma pauta fundamentalmente eleitoral. O presidente da República, convocou uma cadeia de rádio e televisão – nós estamos inclusive entrando na Justiça contra o uso indevido dessa convocação – para fazer propaganda eleitoral. Para o PT falar em democracia é muito fácil. Praticar a democracia sempre foi muito difícil. Porque isso que o presidente fez, cria até um viés antidemocrático, porque cria uma descalibragem na disputa, porque você utiliza o dinheiro público como um instrumento de comunicação de massa para fazer proselitismo político. É quase como um alerta para, com certeza,o que está ainda por vir por aí. Mas há sim uma tensão permanente no Congresso, que se agrava agora com a questão dessa indicação para o Supremo, porque o PT, historicamente se especializou em aparelhar a máquina pública. Agora, está se especializando também em aparelhar outros Poderes, o que também não é muito democrático.
Pelo jeito que as coisas estão se encaminhando, o Jorge Messias pode acabar tendo o nome rejeitado?
Olha, eu não estou no Senado, mas o que eu ouço dos nossos senadores é que hoje ele não tem votos para passar. E eu não tenho absolutamente nada contra o Messias assim que eu conheço. Parece atéser alguém educado, mas nós estamos vivendo um processo em que se perdeu um pouco a institucionalidade de algumas decisões. Para o Supremo Tribunal Federal tem que buscar o mais amigo, entendeu? Não é buscado quem tenha mérito? Alguém mais qualificado. Nós estamos vendo isso acontecer. Há mais preocupação com a idade e a lealdade do que efetivamente com o conhecimento específico, ou a trajetória jurídica do indicado. Com o Bolsonaro foi assim também. Isso é muito ruim para o Brasil, esse padrão que se está estabelecendo, onde vale mais a amizade e a filiação partidária, do que o conhecimento jurídico.
Os deputados e senadores deviam mudar a forma como é indicado o ministro do Supremo e das outras Cortes?
Volta e meia fala-se, independente de mudança, seja criando mandatos de 10 anos. Agora já ouço falar em aumentar a idade, que já foi aumentada há pouco tempo para 75 anos, para 80 anos, exatamente para que o presidente Lula, eventualmente, possa não ter lá na frente outras indicações, mas isso tudo é muito ruim. O melhor, o mais fácil era mudar a percepção do presidente da República em relação ao perfil dos indicados. Por exemplo, na Suprema Corte Americana, quanto os democratas estão no governo, eles indicam pessoas de pensamento liberal, mais próximo ao pensamento dele. Busca as figuras mais destacadas no cenário jurídico. Quando eu não falo nem da questão ideológica é porque a coisa está chegando ao ponto de, além do advogado pessoal que foi indicado, agora é o funcionário do partido, do governo. Isso não faz bem a democracia. E eu acho que esse tipo de ação, não só essa, vai realmente criando dificuldades para o governo no Congresso.
Vamos falar de PSDB. PSDB deu uma encolhida, né? Qual que é seu plano para Minas Gerais e para o partido crescer no Brasil?
O PSDB, na verdade, passou por uma lipoaspiração. Está mais musculoso e, sobretudo, unido. Eu fui eleito pela unanimidade dos votos do país inteiro, que já é uma coisa para os padrões do PSDB, raríssima. Eu acredito, e só assumir esse desafio de presidir novamente o PSDB, porque eu acredito que existe lugar no Brasil para um partido que tem um projeto de país como nós temos, que faça uma oposição clara a incompetência, a paralisia do estado governado pelo PT, mas que seja fundamentalmente democrático. A política brasileira não se resume ao lulopetismo e ao Bolsonarismo. O meu sentimento é que já a partir de 2026, a avenida do centro vai se alargar, porque a política brasileira é historicamente, muito personalizada. Se você voltar no tempo, você vai aos grandes personagens como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek. Você pode até passar na redemocratização com Tancredo, Ulysses e agora, mais recentemente, pelo próprio Lula e Bolsonaro. Gostando ou não, a política brasileira não tem uma tradição de se estruturar em torno de partidos, mas de pessoas. Tanto Lula quanto Bolsonaro não serão, a partir de 26, independente do resultado da eleição, protagonistas do futuro. Eles não serão condutores do futuro. Isso significa que abre-se essa avenida do centro. Nós temos uma parcela, e todas as pesquisas mais qualificadas mostram isso, que talvez seja de metade da população, um pouquinho menos, um pouquinho mais, que tem votado não. Ela tem horror ao Bolsonaro, vota no Lula, ela tem horror ao Lula e vota no Bolsonarismo. Obviamente eu estou abstraindo daí, os dois segmentos fiéis, que tem identidade com esses extremos. Mas essa parcela dos brasileiros, nós precisamos dar a eles a oportunidade de votar sim. E o PSDB, pela sua história, pelo que representa, pelo projeto de país que nós estamos reconstruindo, ele não pode ser medido só pelo número de deputados, de vereador, de prefeito, mas sim pelo que nós representamos. E vou te dar um dado, nós somos o único partido político que não se curvou ou Bolsonarismo ao Lulopetismo.Não participamos nem no governo Bolsonaro, nem do governo Lula, e isso nos fragiliza do ponto de vista quantitativo, de gente eleita. Mas do ponto de vista político nos fortalece. Isso é um ativo político. Então nós vamos chegar para esse debate, mostrandoao Brasil, que existe vida inteligente entre os extremos. Então nós somos oposição ao PT, vamos buscar construir um caminho no centro. Mas não nos identificamos com esse bolsonarismo radical, sobretudo com essa parcela que tem muito pouco apreço pela democracia.
Com quem que o PSDB já está conversando?
É óbvio que, até por estar no Congresso, a gente conversa com muitos setores de vários partidos. Os partidos estão, a maioria deles hoje encastelados em governos estaduais, principalmente o governo nacional. Porque o PSDB é, eu diria, uma ilha programática. É cercado por um oceano de partidos pragmáticos, que qualquer que seja o governo, eles estão lá. Mas setores de cada um desses partidos, na hora que nós apresentamos uma proposta para o país, eu tenho certeza que se aproximarão dessa proposta, que é de centro. E eu não acredito que esses partidos saiam totalmente do governo porque tem os espaços, os cargos, o fundo eleitoral que vem desses, da força desses cargos, isso vale para esses partidos. Mas eu estou querendo conversar com a sociedade, com esses 54% detectados na última pesquisa da Quest que dizem que não são nem bolsonarista, nem lulista. Teve uma pesquisa que fala é que 40% dos jovens se dizem de centro. Olha que dado interessante. É muito maior do que o percentual de quem é de direita e de quem é de esquerda. Só que não tem ninguém falando para eles. Então, o meu papel é radicalizar no centro. Dizer que nós temos um projeto para o país, liberal na economia, inclusive do ponto de vista social. Pragmático na nossa política externa, que respeita a responsabilidade fiscal como instrumento de gestão para diminuir as desigualdades do país, da educação, da saúde, ineficiência na gestão pública. Pode ser que, aparentemente sejam temas que não seduzam as almas, os corações das pessoas, porque você esculhambar, tem mais likes, tem mais acesso nas redes. Mas eu vim para radicalizar no centro e apresentar junto com outras forças, um projeto de Brasil, que não seja representado nem pelo lulopetismo, nem pelo Bolsonarismo. Não é possível que no Brasil não tenha gente que pensa como eu.
Aécio, sai ou não sai candidato?
O meu objetivo hoje, o que me move, me entusiasma é apresentar para o Brasil uma alternativa entre os extremos. Eu acho inaceitável nós deixarmos de herança política para os nossos filhos, nossos netos essa polarização, esse país com essa polarização tão rasa, tão inculta, tão grosseira, tão violenta, que só interessa aos próprios extremos. Então esse é o meu desafio, mas eu tenho responsabilidade para com Minas. Vejo com enorme preocupação o quadro hoje em Minas, o que está se construindo. Mas essa é uma decisão para o ano que vem. Como dizia o velho Tancredo, eu ainda estou naquela fase de deixar a onda bater na areia para ver como fica a espuma. Mas eu não vou me omitir em relação à questão de Minas Gerais, disputando ou não eleição. Já fui governador de Minas por duas vezes, elegemos nosso sucessor. Foi um período extraordinário com o estado reconhecido inclusive fora de Minas até hoje. Pessoalmente sinto que eu já cumpri, mas eu quero ajudar para que Minas não viva outros retrocessos como vem vivendo desde que o PSDB saiu do governo. Então eu vou esperar um pouco que eu estou acompanhando as peças se movimentarem. A minha dedicação esse ano, no início do ano que vem, é reorganizar o partido no estado inteiro, no país inteiro, definindo as direções do partido nos 27 estados da federação, fazendo trocas de comando em vários estados para que o partido possa passar de 30 parlamentares, fazendo alguns governadores e principalmente, unificar o discurso. Um discurso coeso, claro, na direção de um projeto diferente do que isso que está me movendo.