
Advogados dos réus da trama golpista têm discutido quem foi o maior “perdedor” entre os membros do chamado “núcleo central” após os depoimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF). Os defensores avaliaram o comportamento e as respostas dadas por cada um durante o interrogatório com o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo.
Segundo a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo, o general Walter Braga Netto é tido como o “grande perdedor”. Reservadamente, quatro advogados diferentes dizem que o militar complicou sua situação e cometeu um erro estratégico ao dizer que não reconhecia mensagens usadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na denúncia.
“Ficou difícil para o Braga Netto. Entendo que aquilo que é inquestionável não se pode negar. Senão todo resto perde credibilidade. O que não é possível negar, você justifica – ainda que seja difícil. Caso contrário, até a verdade que você disser fica comprometida”, diz um dos defensores.

Outro advogado aponta que Braga Netto “saiu muito comprometido” ao tentar se explicar sobre mensagem em que orienta ataques a colegas militares que não aderiram ao plano golpista. Moraes citou um texto em que o general diz para “sentar o pau” no brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, e o general disse que os diálogos estavam “fora de contexto”.
“Eu não me lembro de ter enviado essa mensagem, eu não me lembro de ter feito essa mensagem. Eu posso confirmar para o senhor, com certeza, eu jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares”, alegou.
Outro ponto que enfraqueceu Braga Netto, segundo os defensores, foi sua explicação sobre o dinheiro repassado ao tenente-coronel Mauro Cid, delator da trama golpista, em uma caixa de vinho. Segundo o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o valor seria repassado a um major acusado de integrar grupo que planejava o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Moraes.
Ao ser questionado sobre o tema, Braga Netto disse que o dinheiro seria usado para pagar dívidas da campanha de Bolsonaro, que buscava a reeleição à época. “Na minha cabeça, tem alguma coisa a ver com campanha. Eu viro pra ele e falo: ‘procura o tesoureiro, que é o Azevedo’. Eu deixei com o Azevedo, porque eu não sabia o que era”, justificou.
Os advogados dos demais réus decidiram não fazer novas perguntas ao general. Eles temiam agravar o constrangimento de Braga Netto e complicar ainda mais sua situação com possíveis respostas enroladas.