As advogadas que atuavam para Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e aparecem na investigação da Polícia Federal sobre a ‘Abin paralela’ do governo Bolsonaro têm histórico peculiar ligado à ditadura.
A PF revelou que Ana Luiza Silva e Beatriz Ferreira encontraram-se com o então presidente Jair Bolsonaro, o ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e o então chefe da Abin, Alexandre Ramagem, em agosto de 2020, com o objetivo de derrubar as investigações sobre a rachadinha do senador.
Ana Luiza e Beatriz atuaram na defesa de Flávio desde o início daquele ano, quando o senador teve que retirar de sua defesa Frederick Wassef, o advogado da família que foi apontado por relações com o policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e também arrolado ao caso da rachadinha do político.
Avô de advogada foi referência na luta para investigar Riocentro
Uma das advogadas, Ana Luiza Silva, é neta do falecido ministro do Superior Tribunal Militar (STM), Júlio de Sá Silva, reconhecido por lutar pela investigação do atentado do Riocentro, na década de 80, e defender presos políticos e interrogatórios sem violência, em plena ditadura do regime militar.
Almirante-de-esquadra, o ministro foi indicado ao STM pelo ditador Ernesto Geisel, em 1977, destacando-se por sua atuação independente à ditadura.
Nos anos finais do regime, em 1982, logo após as eleições legislativas de governos estaduais, apoiou a eleição direta para Presidência da República em 1984 e, ainda que sendo militar, afirmou que o governo militar havia chegado ao fim.
Na contramão do antepassado de Silva, a segunda advogada que dividia a banca de defesa de Flávio Bolsonaro com Ana Luiza e que também esteve presente na referida reunião, Beatriz Ferreira tem histórico oposto ao do avô da colega.
Outra advogada já atuou na defesa de general acusado no caso Riocentro
Ferreira é advogada de longa data do senador e filho do ex-mandatário e, de acordo com reportagem de Juliana Dal Piva e Chico Otavio, em O Globo, ela já advogou para militares acusados por crimes cometidos durante a ditadura.
Ferreira defendeu justamente o general Nilton Cerqueira, então comandante da PM do Rio de Janeiro e denunciado no atentado do Riocentro como o responsável por suspender o policiamento no centro de convenções do local onde os militares pretendiam plantar as bombas.
O escritório do qual Ferreira foi sócia, com o advogado Rodrigo Roca, também atualmente defensor de Flávio Bolsonaro, também defendeu outros militares da ditadura, incluindo o próprio acusado pelo assassinato e ocultação de cadáver do deputado Rubens Paiva, em 1971, o general reformado José Nogueira Belham. O militar era chefe do DOI-CODI do Rio de Janeiro.