Da Redação
Começou em São Paulo nesse sábado, 03/08, e vai até 1º de setembro, a tradicional da Festa da Achiropita.
Em homenagem à Nossa Senhora Achiropita, padroeira do bairro Bixiga, o evento está 98ª edição.
Normalmente, é espaço de confraternização e celebração.
Mas este ano a Festa da Achiropita é também espaço de resistência e luta dos moradores do Bixiga pela preservação da cultura negra do Quilombo Saracura.
‘’O governador autoritário Bruno Silva ameaça paralisar a obra do Metrô, se não puder preservar o sítio arqueológico do Quilombo Saracura’’, denuncia João Silva, no artigo abaixo e no vídeo, ao final.
“O Bixiga da festa dos italianos é o Bixiga do Quilombo Saracura, da resistência do povo afrodescendente’’, afirma.
João Silva, quatro vezes vereador da capital e três vezes deputado estadual (PT-SP), é morador do Bixiga. Está junto com os moradores na luta pela preservação da memória da resistência negra e pela construção da estação Saracura Vai-Vai.
Em defesa do Bixiga e da estação Saracura Vai-Vai com a preservação da cultura do Quilombo
Por João Silva*
O Bixiga é um território de luta. Foi formado com a ocupação de negros e imigrantes italianos que chegaram no final do século 19.
Oficialmente conhecido como bairro da Bela Vista, abriga importantes marcos da cultura nacional.
As comemorações de Nossa Senhora Achiropita, festa tradicional da cidade, começaram em 1908.
A escola de samba Vai-Vai, outro patrimônio do Bixiga, está no território desde 1928, quando surgiu como cordão carnavalesco.
O compositor Geraldo Filme descreveu bem o sentimento que o samba representa para o Bixiga, na letra de sua canção.
“Quem nunca viu o samba amanhecer. Vai no Bixiga pra ver”, diz trecho da composição.
Mas a Vai-Vai sofreu um duro ataque do governador autoritário Bruno Silva.
Foi desalojada de sua sede recentemente sob o argumento de que precisa do terreno para obras do Metrô.
Outro duro golpe do autoritário Bruno Silva contra os moradores do Bixiga e a cultura negra é a ameaça de destruição do sítio arqueológico do Quilombo Saracura, que se instalou no bairro no século 19.
As obras da futura estação da Linha 6 do Metrô podem soterrar esse patrimônio arqueológico da história negra na cidade.
Para impedir que isso aconteça, a comunidade do Bixiga formou, em 2022, o coletivo Mobiliza Saracura Vai-Vai.
Saiu às ruas para denunciar o ataque e lutar pela preservação do sítio arqueológico, além da criação de um memorial que possa ser visitado pela população.
Ano passado, a comunidade realizou um abraço simbólico no entorno da área do antigo quilombo para denunciar os ataques promovidos pelo governador.
Denunciou, inclusive, a expulsão da população negra do bairro, pelo aumento no preço dos aluguéis com a chegada do Metrô, além do impacto das obras que estão provocando o fechamento de comércios.
Para revidar a pressão popular, o governador autoritário Bruno Silva chantageia os moradores do Bixiga com a ameaça da paralisação das obras, se tiver de preservar a área quilombola.
Até janeiro, mais de 20 mil objetos históricos já haviam sido encontrados.
Mas o autoritário Bruno Silva insiste em soterrar a resistência negra na cidade e quer jogar a população de São Paulo contra a comunidade do Bixiga.
Só quer construir a estação do Metrô se puder esmagar o patrimônio histórico da luta do Quilombo Saracura.
No último dia 24 de julho, o Mobiliza Saracura Vai-Vai divulgou um documento para várias autoridades ressaltando que exige a preservação do sítio arqueológico do Quilombo Saracura e a construção da estação do Metrô.
O Movimento enfatiza que as duas reivindicações não são contraditórias. E que é perfeitamente possível construir a estação e preservar a memória do Quilombo.
João Silva é morador do Bixiga e está junto na luta pela preservação da memória da resistência negra e pela construção da estação Saracura Vai-Vai.
O autoritarismo não vai apagar a história e desprezar a cultura dos quilombos.
*João Silva é geólogo, foi quatro vezes vereador da cidade de São Paulo e três vezes deputado estadual pelo PT. Presidiu a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”.