Por Adilson Araújo, presidente da CTB

Embora apresentados como modelo de democracia e de liberdade pela poderosa máquina de propaganda imperialista, os EUA são na realidade uma plutocracia, ou seja, um governo dos ricos e para os ricos, conforme alertou o filósofo italiano Domenico Losurdo (1).

Obscurecida pela mídia, essa verdade ganha nova luz no governo do bilionário Donald Trump, líder da extrema direita estadunidense.

Aparência e essência

Neste caso, como raramente acontece, a essência coincide com a aparência dos fatos e estes dificilmente podem ser diluídos pelo marketing político.

O gabinete do novo presidente é integrado por nada menos do que 11 bilionários, entre eles o capitalista mais rico do mundo, o neonazista sul-africano Elon Musk.

A riqueza conjunta desses magnatas soma US$ 452,8 bilhões (cerca de R$ 2,7 trilhões), valor superior ao PIB de 154 países.

São apenas 0,00024%, uma porção ínfima da população dos EUA, mas concentram um poder econômico e político infinitamente superior aos de um cidadão comum e mesmo de milhões de indivíduos isolados e carentes de uma consciência coletiva.

Evidentemente esses privilegiados capitalistas são movidos pelo objetivo de expandir a própria riqueza, o que tem por contrapartida o crescimento exorbitante da concentração e centralização do capital e da renda nas mãos de poucos, razão da crescente polarização social e política.

Discurso falacioso

Convém lembrar que a extrema direita chega ao poder com o discurso falacioso de que pretende  subverter e demolir o “sistema”, ganhando com isto a simpatia e o apoio de parcelas expressivas da classe trabalhadora e do povo.

Na Argentina, Milei venceu a eleição explorando um vídeo em que aparecia destruindo o Banco Central num momento em que o poder de compra da moeda (o peso argentino) derretia diariamente.

No Brasil, o golpista Jair Bolsonaro se apresenta ao distinto público como uma “vítima do sistema”.

Afinal, vivemos sob o sistema capitalista e os males que atormentam a sociedade humana, especialmente a classe trabalhadora, são dele oriundos, são males do capitalismo.

Na realidade, como os fatos comprovam reiteradamente, o objetivo desses políticos reacionários não é combater o capitalismo, é precisamente o oposto: fortalecer o capital e o sistema capitalista, favorecer os mais ricos, aumentar a concentração da renda e impor à classe trabalhadora o ônus da crise, acabando com o Direito do Trabalho e retirando o pobre do orçamento público.   

A reformas da Previdência – no governo Bolsonaro – e da legislação trabalhista – levada a cabo por seu antecessor, o usurpador Michel Temer – são exemplos incontestáveis disto.

Bode expiatório

Donald Trump escolheu os pobres imigrantes como bode expiatório da decadência da maior economia capitalista do mundo, quando as crises que abalam a parasitária economia norte-americana, invariavelmente, são obras da oligarquia financeira.

Com a arrogância própria de ricaços imperialistas, o novo presidente dos EUA se arvora imperador, ou ditador, do mundo, senhor absoluto da guerra e da paz global.

O caráter imperialista de seu governo transparece na ameaça de retomar o controle sobre o Canal do Panamá, conquistado pelo povo panamenho no governo patriótico do valoroso general Omar Torrijo, em negociação com o então presidente Jimmy Carter, consumada em 1977.

Solidariedade a Cuba

Uma vez mais, Donald Trump destila seu ódio contra Cuba socialista, incluída  novamente na execrável lista de países que promovem o terrorismo no mundo, lista criada por Washington com o propósito de perseguir povos e nações que não rezam por sua cartilha.

O líder da extrema direita estadunidense, produto da decomposição da ordem capitalista internacional, promete uma “América grande de novo”.

Mas, conforme ressalta a Resolução Política aprovada na última reunião da Direção Nacional da CTB, realizada nos dias 11 a 13 de dezembro, “as bravatas de Trump não vão reverter o declínio de Washington nem conter a ascensão de Pequim, mas tendem a tornar um pouco mais crítico e sombrio o cenário econômico mundial” (2).

Socialismo é a alternativa antissistema

A ascensão da extrema direita nos EUA é um sintoma notório, entre muitos outros, da crise do sistema capitalista e da corrompida democracia burguesa, que capitaneada por uma oligarquia rentista cede caminho ao neonazismo.

Nesta conjuntura é preciso intensificar a luta por uma nova ordem geopolítica internacional, reiterar nossa ativa solidariedade ao valente povo cubano e seu governo revolucionário, repudiar as chantagens imperialistas, exigir o respeito à soberania das nações, e em particular o direito do Panamá sobre o seu próprio canal, bem como apontar o socialismo como a única alternativa efetiva e progressista à crise global do sistema capitalista, verdadeiramente antissistema.

Notas

1- Domenico Losurdo, “A esquerda ausente – crise, sociedade do espetáculo, guerra”, Anita Garibaldi (2016)

2-https://www.ctb.org.br/2025/01/23/resolucao-politica-da-ctb-aprova-luta-contra-cortes-de-direitos-e-beneficios-2/

Ilustração: Udo J. Keppler

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Last Update: 24/01/2025