Adesão ao plano econômico da ala conservadora golpista

A nova pesquisa da Genial/Quaest divulgada nessa sexta-feira (12) caiu como uma luva para aqueles que querem prolongar as suas ilusões. Segundo o levantamento, o presidente Lula venceria as eleições presidenciais de 2026 em um eventual segundo turno, seja qual for o cenário. A novidade da pesquisa é que ela apresenta o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como possível substituto de Lula. Haddad também venceria qualquer outro candidato no segundo turno.

Em festa, Eduardo Guimarães escreveu o artigo Destruindo o bolsonarismo, publicado pelo Brasil 247. Logo de início, ele apresenta o motivo de sua alegria:

“Não deveria gerar tanta surpresa a pesquisa Quaest que mostrou preponderância quilométrica de Lula e Fernando Haddad sobre um cada vez mais desmoralizado bolsonarismo. O presidente e seu ministro vencem de Bolsonaro a Pablo Marçal com grande folga em uma eventual eleição para presidente em segundo turno em 2026.”

Na sua euforia, Guimarães esquece de analisar se os dados condizem com a realidade. Em primeiro lugar, ele deveria levar em consideração que, há cerca de dois meses, ocorreram as eleições municipais. E qual foi o resultado? Uma vitória inédita da extrema direita e uma desmoralização total da esquerda.

O partido mais votado da eleição foi o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A esquerda teve apenas 10,35% dos votos totais, enquanto a extrema direita teve quatro vezes mais: 41,57%. O chamado “centro” ficou com 48,01% dos votos, mas não custa lembrar que os principais partidos desse bloco já estão bastante infiltrados pelo bolsonarismo, como é o caso do Partido da Social Democracia (PSD) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) perdeu todas as prefeituras que tinha. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) perdeu mais da metade das que comandava. As eleições mostraram, portanto, uma tendência: há uma revolta latente do povo brasileiro contra a política que vem sendo levada adiante pela esquerda institucional. Isto é, a política identitária e a política de frente ampla.

Diante dessa tendência, nada aponta para uma vitória tranquila da esquerda em 2026. A obrigação de qualquer analista sério seria desconfiar de uma pesquisa como a da Genial/Quaest, não a assumir como verdadeira. E há muito motivo para desconfiança. No primeiro turno das eleições de 2022, o mesmo instituto errou feio em suas previsões. Para a Genial/Quaest, Bolsonaro teria apenas 38% – o ex-presidente, no entanto, teve 43,2%. Uma diferença de 5,2%.

A Genial/Quaest não errou sozinha. Institutos como o Ipespe diminuíram em 8,2% a votação de Bolsonaro, enquanto o DataFolha errou em 7,2%. Havia, portanto, uma tendência geral dos institutos de pesquisa de diminuir a votação do líder da extrema direita brasileira. Por que não poderíamos, portanto, estar diante de mais uma manipulação da Genial/Quaest?

O que chama particularmente a atenção é a votação de Haddad, que já é odiado por uma parcela da população por causa dos impostos. Há não muito tempo, explodiu na Internet um movimento que o chamava de “Taxad”. Alguém menos eufórico deveria questionar, portanto, se o objetivo da pesquisa não seria o de promover a figura de Haddad, que é cada vez mais repudiado pela esquerda, como forma de diminuir a resistência à sua política fiscal. Ou, considerando o estado de saúde de Lula, se o objetivo não seria pressionar a direção do Partido dos Trabalhadores (PT) a abrir mão de sua candidatura à reeleição. Afinal, a eleição já estaria ganha, mesmo que Lula não fosse candidato…

Em vez de assumir uma posição cética em relação às pesquisas, Guimarães procura justificá-las. Diz ele:

“A surpresa exacerbada não cabe porque analistas como este que vos fala nunca duvidaram de que Bolsonaro seria desmascarado pelas investigações da PF, da PGR e do Supremo. E esse desmascaramento explica a pesquisa em tela.”

Segundo o blogueiro, portanto, o motivo das pesquisas favoráveis a Lula seriam as investigações contra Jair Bolsonaro. Chega a ser infantil.

Primeiro que Guimarães pode não se dar conta, mas, ao fazê-lo, ele está colocando o mérito da luta contra a extrema direita nas mãos das instituições que deram o golpe de 2016. A Polícia Federal, por exemplo, na época do golpe, perseguiu o próprio Guimarães por ter vazado a informação de que pretendiam prender o então ex-presidente Lula.

Hoje, Guimarães está dizendo claramente: a extrema direita está sendo derrotada porque a Polícia Federal está trabalhando! Só pode ser um delírio…

Fato é que, embora haja investigações contra Bolsonaro, não há nada ainda que indique que ele de fato vá ser preso. Pelo contrário: os indícios são de que a burguesia está procurando pressioná-lo para um acordo. O que mostra isso claramente é que o escolhido para julgar Bolsonaro é ninguém menos que Alexandre Moraes, que é vítima, acusador e juiz, uma ilegalidade que torna o processo passível de ser facilmente derrubado.

Ainda que Bolsonaro fosse preso, isso não iria diminuir em nada a força da extrema direita. Como se viu nas eleições, ela é uma força presente no regime político, independentemente de Bolsonaro. Um dos partidos que mais cresceu, por exemplo, foi o Republicanos, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Há outro dado ainda mais importante a ser levado em consideração. Guimarães, que acompanhou de perto o golpe de 2016, deveria se perguntar: a burguesia hoje quer um novo mandato petista ou está preparando um governo reacionário, como o do argentino Javier Milei?

Não há dúvidas de que seja o segundo caso. O imperialismo está em uma contraofensiva em todo o mundo, procurando estabelecer governos que sejam uma verdadeira ditadura contra a população. A tendência é que, para a esquerda ganhar as eleições em 2026, tenha que travar uma verdadeira guerra.

Ignorando esse problema, Guimarães ainda diz, acerca da pesquisa:

“Além do que, parte dos 47% que reprovam Lula é composta por esquerdistas sem noção que dedicam seu tempo não a enfrentar a tentativa de ascensão da extrema-direita, mas a atacar o ‘neoliberalismo’ de Lula e Haddad, como se enfraquecê-los políticamente [sic] e ajudar a extrema-direita a voltar ao poder pudesse produzir menos liberalismo econômico.”

Para Guimarães, o que fortalece o governo Lula são as suas capitulações diante do grande capital. É o Plano Haddad, que irá estabelecer um teto para o salário mínimo. Trata-se do exato oposto: quanto mais à direita vai o governo, mais ele se desmoraliza, mais ele perde apoio popular.

Se é fato que a esquerda precisará travar uma guerra para vencer em 2026, também é fato que o povo não irá para a guerra para defender um governo que ataca os direitos dos trabalhadores. As concessões à direita do governo estão cavando a sua própria cova. E Guimarães está ajudando nisso.

No final das contas, a euforia de Guimarães com a pesquisa é apenas uma cobertura para esconder a sua própria capitulação. Diante da pressão da extrema direita, o blogueiro está se apegando a uma política de contemporização com a frente ampla. Está, melhor dizendo, abrindo mão de defender os interesses históricos dos trabalhadores e abraçando a política neoliberal.

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