Essa notícia costuma passar despercebida na mídia tradicional, apesar de sua enome importância histórica e consequências geopolíticas imediatas.

A Rússia permitiu avanços em dois projetos de infraestrutura com a China: a construção da ferrovia China-Quirguistão-Uzbequistão (CKU) e o redirecionamento do gasoduto Power of Siberia 2 para o Cazaquistão, em vez da Mongólia. Esses projetos visam fortalecer a cooperação econômica e logística entre os países.

A ferrovia CKU, que conectará Kashi, na China, a Andijan, no Uzbequistão, passando pelo Quirguistão, começará a ser construída em julho de 2025, com previsão de conclusão em seis anos. O projeto foi proposto originalmente nos anos 1990 e enfrentou atrasos devido à oposição russa, que buscava manter o controle sobre o transporte de recursos naturais da Ásia Central para a Europa. No entanto, os três países assinaram um memorando de entendimento em 1997, e recentemente a Rússia deu sinal verde para o projeto.

O trajeto da ferrovia inclui a passagem pelo Torugart Pass, no Quirguistão, e a construção do trecho quirguiz será gerida pela CKU Railway Co, uma joint venture entre os três governos. A China e o Uzbequistão construirão as seções dentro de seus territórios. Apesar do uso de diferentes bitolas ferroviárias nos países envolvidos, o projeto seguirá o padrão russo de 1.524 mm em suas novas linhas no Quirguistão e no Uzbequistão.

O gasoduto Power of Siberia 2 será redirecionado para passar pelo Cazaquistão. O projeto, que visa transportar gás russo para a China, terá capacidade de 45 bilhões de metros cúbicos por ano, dos quais 10 bilhões atenderão a demanda doméstica do nordeste do Cazaquistão e 35 bilhões serão exportados para a China. O vice-primeiro-ministro russo Alexander Novak confirmou que o estudo de viabilidade e as negociações estão em andamento.

O projeto inicial previa o trajeto do gasoduto pela Mongólia, que completou um estudo de viabilidade em 2022 e planejava começar a construção em 2024. No entanto, o governo chinês rejeitou essa rota, preferindo o trajeto pelo Cazaquistão. O redirecionamento elimina custos de construção associados ao terreno montanhoso da Mongólia e evita uma rota que poderia estar sujeita a tensões políticas, porque o governo chinês vê a Mongólia como inclinada para os EUA.

Os preços globais de energia caíram para cerca de US$ 70 por barril em dezembro de 2024, reduzindo a receita russa de exportação de petróleo. Adicionalmente, as sanções impostas por G7, União Europeia e Austrália limitaram os preços do petróleo russo a US$ 60 por barril, afetando as reservas de moeda estrangeira do país. Desde o início da guerra na Ucrânia, o rublo desvalorizou-se 34%, com queda de 17% somente em 2024, atingindo 108 por dólar.

A cerimônia de lançamento da ferrovia CKU ocorreu em Jalalabad, Quirguistão, no dia 27 de dezembro de 2024, com a presença do enviado especial do presidente chinês Xi Jinping, Zheng Shanjie, e do presidente quirguiz Sadyr Japarov. Os presidentes da China e do Uzbequistão enviaram mensagens de congratulação para o evento.

Com a conclusão da ferrovia CKU, o comércio da Ásia Central poderá se diversificar, abrindo um novo corredor para a Europa via Irã, Turquia e Grécia, reduzindo a dependência de rotas controladas pela Rússia. O projeto é considerado um marco nas relações econômicas entre a China e os países da Ásia Central, facilitando o transporte de bens e ampliando a conectividade regional.

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Last Update: 01/01/2025