Um dos maiores nomes da luta contra a escravidão, o jornalista, poeta e advogado baiano Luiz Gama teve seus documentos históricos reconhecidos pela Unesco-América Latina como “Patrimônios da Humanidade”.

Em dezembro, a organização analisou 35 inscrições elegíveis de 14 países e aprovou 27, entre as quais a do líder abolicionista que marcou a luta em defesa da liberdade no século 19, tornando-se o Patrono da Abolição no Brasil.

Conforme apontado pela organização, Gama “trabalhou para assegurar a libertação de pessoas escravizadas ilegalmente, assim como para arrecadar fundos para comprar a liberdade daqueles cuja escravização ilegal não pode ser provada”. 

Além disso, lembrou que os manuscritos destacam a “existência de quilombos na cidade de São Paulo e o papel da população negra escravizada e livre na criação e manutenção da cidade”.

Entre os documentos estão cartas de emancipação escritas por ele para buscar a liberdade dos escravizados. Advogado autodidata, Gama frequentou, como ouvinte, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, e usou de seus conhecimentos sobre a legislação da época de conseguir a alforria de centenas de pessoas. Com esse trabalho, esteve à frente da maior ação coletiva de libertação de escravizados conhecida nas Américas.

Uma cópia desses registros está no Arquivo Público de São Paulo, parte dela já digitalizada. Em apenas um desses cadernos está registrada a libertação de 212 pessoas.

Nascido na cidade de Salvador em 21 de junho de 1830, Luiz Gama foi vendido como escravo aos dez anos pelo próprio pai, um fidalgo branco e foi alforriado aos 17 anos. Sua mãe seria Luísa Mahin, uma mulher negra liberta que se envolveu com a Revolta dos Malês e a Sabinada, teve de fugir para o Rio de Janeiro devido à repressão.

Mais tarde, Luiz Gama — que fora analfabeto até os 17 anos — se tornou um dos poucos intelectuais negros daquele período. Apenas 12 anos após ter aprendido a ler, publicou, em 1859, seu único livro, Primeiras Trovas Burlescas, colocando-o como escritor de destaque do país.

Faleceu em 24 de agosto de 1882, aos 52, vítima de complicações causadas pela diabetes.

Em 2021, a USP lhe concedeu o título de doutor honoris causa e, em abril de 2023, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania revogou a “Ordem do Mérito Princesa Isabel”, criada por Jair Bolsonaro (PL), e em seu lugar, instituiu o Prêmio Luiz Gama de Direitos Humanos.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 13/01/2025