O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), passou por um intenso interrogatório da Polícia Federal no Rio de Janeiro, que teve quase 130 perguntas e durou mais de seis horas na última quarta-feira (17).
Durante o depoimento, o bolsonarista procurou dissociar-se da chamada “Abin paralela”, atribuindo a responsabilidade pela ação clandestina a dois ex-assessores: o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o sargento do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, ambos detidos na recente Operação Última Milha.
As perguntas feitas a Ramagem, alvo central das investigações, abordaram diversos aspectos, incluindo o polêmico áudio vazado na segunda-feira (15), no qual ele, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o então chefe do GSI, Augusto Heleno, e duas advogadas discutiam estratégias para anularem a investigação contra o senador Flávio Bolsonaro pela prática de “rachadinha”.
A Polícia Federal sustenta que Ramagem teria usado a estrutura da Abin para definir o monitoramento dos auditores fiscais, conforme detalhado na representação de 187 páginas para a quarta fase da Operação Última Milha.
A ação, descrita como urgente e seguindo o modus operandi de uma organização criminosa, visava descobrir informações comprometedoras e relações políticas dos servidores, sem registro oficial das diligências.
Diálogos recuperados pela PF entre Bormevet, Gomes Rodrigues e Ramagem indicam que pesquisas ilegais foram conduzidas em novembro de 2020, com resultados entregues ao ex-diretor-geral em dezembro do mesmo ano. Este episódio gerou uma sindicância interna na qual ele foi acusado de faltar com a verdade ao negar envolvimento direto na produção de dossiês sobre os auditores da Receita.
Após a divulgação do áudio, Ramagem negou qualquer conhecimento sobre documentos elaborados para a defesa de Flávio Bolsonaro, afirmando que as responsabilidades de Bormevet na Abin não incluíam tal atividade. Em contrapartida, o policial federal também negou ter produzido qualquer relatório para beneficiar políticos ou agentes públicos.
“Nem o diretor-geral da Abin, nem qualquer outra pessoa demandou isso ao depoente e que o depoente tampouco executou qualquer pesquisa nesse sentido, nem elaborou qualquer documento ou relatório para auxiliar a defesa do senador Flávio Bolsonaro ou de qualquer outro parlamentar ou agente público”, diz a sindicância de Bormevet.