A Polícia Federal (PF) suspeita que a “Abin paralela” montada durante o governo Bolsonaro tenha monitorado ilegalmente políticos, servidores públicos e adversários do ex-presidente, conforme informações do Globo. A PF deflagrou, nesta quinta-feira (11), uma nova fase da operação que investiga esse esquema.
Entre os monitorados estaria o ex-deputado Jean Wyllys, cujos passos foram acompanhados pela ferramenta First Mile. A ferramenta permitia que, ao digitar o número de um telefone, fosse possível rastrear sua localização através da conexão de rede do aparelho.
Há também suspeitas de que um servidor do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que liderou operações contra garimpeiros e madeireiros ilegais na Amazônia durante o governo Bolsonaro, foi monitorado. Hugo Ferreira Netto Loss, então coordenador de Operações de Fiscalização do Ibama, foi exonerado do cargo em abril de 2020.
Loss, que é servidor de carreira do Ibama, coordenou ações contra garimpos em terras indígenas no sul do Pará, durante as quais os fiscais destruíram maquinários utilizados pelos criminosos, incluindo a queima de equipamentos que não puderam ser removidos das áreas de reserva.
Carlos Alberto Litti Dahmer, um dos principais representantes das entidades de caminhoneiros do país e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), também foi alvo da First Mile. Vale destacar que ele organizou protestos contra Bolsonaro.
A PF também investiga o possível monitoramento de um celular de um servidor do Supremo Tribunal Federal (STF) que trabalhava na área de tecnologia. Durante seu mandato, Bolsonaro fez ataques sistemáticos ao Poder Judiciário.
Outro ponto de destaque para a PF foi o aumento significativo de acessos ao programa espião durante as eleições municipais de 2020. Os investigadores elaboraram um gráfico que mostra o crescimento expressivo dos monitoramentos realizados pelo First Mile no período em que foram eleitos prefeitos e vereadores em todo o país.
A lista de monitorados pela Abin inclui também lideranças de grupos de caminhoneiros e dirigentes de entidades do setor. Após a greve dos caminhoneiros que paralisou o país em 2018, a agência de inteligência intensificou a coleta de informações sobre ameaças de novos protestos.
Tática de cercamento
Durante as investigações, a Polícia Federal revelou que a Abin utilizava a tática de “cercamento”. O sistema permitia desenhar um mapa de uma área específica e monitorar se um alvo se movia dentro da região delimitada.
Os dados coletados pelos investigadores mostram que essa técnica foi empregada em um endereço próximo ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O motivo dessa vigilância ainda não é claro, mas a PF suspeita que advogados e juízes possam ter sido monitorados.
Outras áreas monitoradas pela Abin através do programa espião também atraíram a atenção da PF. Os investigadores descobriram que alvos foram rastreados em residências localizadas em uma área nobre de Brasília. Sem um registro formal de todas as operações, o inquérito busca entender as circunstâncias dessas vigilâncias e se há alguma conexão com as embaixadas situadas na região.
No Rio de Janeiro, a PF descobriu que a Abin seguiu os passos de algumas pessoas em bairros da zona sul utilizando a conexão de rede de seus celulares. A justificativa para o uso da ferramenta na capital carioca era auxiliar no combate ao tráfico. Contudo, segundo os investigadores, não há indícios de que o First Mile tenha sido usado em áreas controladas por organizações criminosas.