Sob o governo de Jair Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigou se as denúncias e investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes estavam relacionadas à família do ex-mandatário ao crime.
É o que revela a representação da Polícia Federal sobre a “Abin paralela”, que motivou a Operação Última Milha, nesta semana, e mostra como a Agência de Inteligência foi utilizada ilegalmente pelo governo anterior para benefício próprio. A informação foi divulgada pelo site O Cafézinho e o Jornal GGN confirmou, com acesso ao documento da PF, e trouxe em detalhes.
“As diligências policiais ao longo da investigação revelaram ações clandestinas realizadas pela estrutura paralela relacionadas à investigação do homicídio da vereadora Marielle”, traz a Polícia Federal, no documento.
Entre as ações ilegais de monitoramento e espionagem, a Abin, então sob o comando de Alexandre Ramagem, hoje deputado pelo PL-RJ, fez um relatório de inteligência listando todas as denúncias ligadas à morte da vereadora e do motorista, e quais delas detinham “informação da família Bolsonaro”.
Além do documento, a apuração da PF, tornada pública agora, revela que a Abin espionou a promotora de Justiça do GAECO, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), Simone Sibilio do Nascimento. Entre 2018 e 2021.
No Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do MP, ela esteve à frente das investigações do assassinato da vereadora do PSOL. No requerimento da PF, o currículo da promotora aparece em um dos relatórios de inteligência:
Da mesma forma, foram produzidos “dossiê de informações” sobre Daniel Freitas da Rosa, o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro que assumiu as investigações em 2019:
Segundo a PF, Daniel Freitas da Rosa teria sido monitorado porque, como nomeação de Jair Bolsonaro, ele era parte do “núcleo-político” do governo e tinha como objetivo verificar se alguma informação ou publicação relacionada ao delegado poderia afetar o governo.