A queda do regime mantido pela família de Bashar al-Assad ao longo de 54 anos não foi afetada apenas pela distração de seus patronos iranianos e russos, mas também pelas próprias deficiências do atual governo em meio a uma economia parasitária e um regime político que não tolerava dissidentes.
Segundo Barak Barfi, pesquisador na Brooklings Institution, Bashar al-Assad só assumiu a liderança da Síria por conta da morte prematura de seu irmão mais velho, Bassel, em 1994. “Bashar foi convocado para casa de sua residência em oftalmologia em Londres”, explica Barfi, em artigo publicado no Project Syndicate.
Após a morte de Hafez al-Assad em 2000, Bashar al-Assad tomou posse de um estado forte e estável. Esperava-se que a exposição de Bashar ao Ocidente pudesse ajudar a moderar o Partido Ba’ath, mas não foi o que aconteceu.
Após sufocar a dissidência e fechar os olhos para a corrupção, Bashar al-Assad “desviou as frustrações dos sírios demonizando os bichos-papões estrangeiros” como forma de compensação, e inclusive mostrou-se disposto a imitar as tendências violentas de seu pai, como na conspiração com o Hezbollah para matar o primeiro-ministro libanês Rafiq Hariri.
Rompimento por completo
Em 2006, até mesmo os aliados ocidentais deixaram o regime de Bashar al-Assad de lado e, com as revoltas registradas no mundo árabe em 2011, era questão de tempo que a Síria fosse afetada de alguma forma. Apesar do apoio da elite urbana e da classe trabalhadora contra os rebeldes da área rural, o regime só se manteve com o apoio de milícias apoiadas pelo Irã.
Na falta de uma reforma política, os apoiadores do regime buscavam mudanças econômicas, com foco na distribuição de recursos e na reconstrução do país. Mais uma vez, os planos deram errado: de acordo com Barfi, o regime sírio “dependia de propinas de ricos empresários e extorsão de estrangeiros”.
“Com a economia se contraindo e os cortes nos subsídios tornando os alimentos básicos do dia a dia inacessíveis para o assalariado médio, cerca de 70% das famílias sírias dizem que não conseguem atender às suas necessidades básicas”, reitera o pesquisador, lembrando que atualmente o país ganha muito mais com a exportação ilegal de anfetaminas do que com o comércio legal.
A ação dos rebeldes pegou de surpresa tanto aqueles que enriqueceram às custas da captura de recursos como os patronos iranianos e russos, envolvidos nos confrontos contra Israel e Ucrânia mas, em última análise, pode-se dizer que “foi sua arrogância e recusa em abraçar a reforma econômica e política” que comprometeram o regime de Bashar al-Assad.