No dia 2 de julho, completaram-se 200 anos da Confederação do Equador, uma revolta que eclodiu em Pernambuco e estados vizinhos, como Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará, contra o recém-formado Império brasileiro, pouco menos de dois anos após a Proclamação da Independência.
A data foi a deixa para uma leva de interpretações reacionárias da história do Brasil, como vem ocorrendo em todos os episódios e com personagens históricos de importância nacional. Tal revisionismo histórico é impulsionado pela ideologia identitária, infiltrada na esquerda pequeno-burguesa cujo objetivo é criar uma ideia negativa do Brasil, a serviço dos interesses imperialistas.
O portal do jornal A Verdade, jornal ligado ao partido Unidade Popular, foi um dos que se aventuraram a fazer uma análise do episódio da Confederação do Equador: 200 anos da Confederação do Equador: a força, a bravura e a resistência do povo nordestino é o título do artigo.
No artigo, muito pouco se fala sobre o episódio. Tratam-se de algumas considerações gerais – e muito erradas – sobre a história do Brasil e uma análise breve – e muito errada – sobre a Confederação do Equador.
No início, o artigo mostra o que pensa sobre o Brasil: “E foi na região Nordeste que a desgraça começou”. Ou seja, o Brasil, país no qual a UP atua, seria uma “desgraça”. Essa concepção explica, inclusive, a análise posterior sobre a Confederação do Equador, revolta cujo principal objetivo era a divisão do país.
Para a UP, a revolta foi boa, quase uma ação imaculada, conduzida por santos. Segundo o artigo, ela teria sido fundamentalmente uma revolta popular: “Ante a organização de tropas militares imperiais para sufocarem a Revolução (…) , era preciso mobilizar o povo. Este não se negou. Foi para as ruas e acrescentou suas próprias reivindicações – fim da escravidão e poder popular”.
O líder da revolta foi Manoel de Carvalho Paes de Andrade, que era um latifundiário. A situação da lavoura de açúcar estava em crise. O que fez o preço cair foi o emprendimento dos ingleses e holandeses que montaram a produção nas Antilhas, no Caribe. Essa situação vai se agravando até que os estados no Nordeste caem numa paralisia econômica. Essa é a explicação fundamental da revolta: uma revolta da classe dominante de Pernambuco contra o governo central devido ao problema dos impostos.
Uma parte dos latifundiários se levantou contra o governo imperial por causa dos impostos, tendo como estopim a dissolução da Assembleia Constituinte, ocorrida meses antes. Portanto, uma parte importante dos líderes da revolta também era escravagista.
O caráter reacionário ou revolucionário de uma revolta não deve ser medido apenas se os participantes são o povo ou não, esse é apenas um aspecto do problema. A UP, como quer elogiar a Confederação do Equador, inclusive ignora o verdadeiro conteúdo social dela. Mas o problema não é esse. A revolta poderia ser progressista mesmo liderada por latifundiários. Mas não é esse o caso.
A figura de Frei Caneca, um clérigo revolucionário, é apontada para mostrar um suposto caráter progressista da revolta. Ele é apontado como símbolo da revolução. Mas ele não era o principal chefe da revolta.
A Confederação do Equador visa a desmembrar o País. O Brasil perderia todo o Nordeste se a revolta fosse bem sucedida. Nesse sentido, ela tinha um caráter reacionário, independentemente das intenções dos revoltosos. Frei Caneca, por exemplo, era uma pessoa convicta de suas ideias, mas era a favor de dividir o Brasil. Era um preconceito dos setores radicais, uma confusão política. Visto em perspectiva histórica, a revolta tinha um caráter reacionário, pois o esforço naquele momento era o de manter o país unificado.
O Brasil era uma nação recém formada e a luta pela independência ainda estava acontecendo. As tendências à desagregação ainda eram fortes e a Confederação do Equador expressava essa tendência que caso fosse vitoriosa teria como resultado a divisão do Brasil e a criação de países menores, ou seja, mais fracos e, portanto, mais suscetíveis ao domínio estrangeiro. Esse é o bê-a-bá da política.
Não haveria problema em exaltar a luta do povo, desde que a análise do que aconteceu seja correta. O que o artigo da UP faz é, na prática, defender a divisão do país, como se o Nordeste fosse algo superior ao resto do Brasil.
Um partido que tem atuação nacional deve ter como princípio a unificação do País. Mas a esquerda pequeno-burguesa abandonou há muito esse princípio. Por isso se confunde nas questões históricas e adota uma política reacionária nas questões atuais.
Se o Brasil fosse dividido na 1824 seria reacionário, se o Brasil for dividido hoje será também reacionário. Uma verdadeira catástrofe social para o povo.