Em artigo recente, Robert ­Reich, ex-secretário do Trabalho de Bill Clinton, desvelou a reiterada ocupação do Estado norte-americano pela oligarquia dos ricaços. Entre perplexo e indignado, Reich escreveu: “Trump escolheu 13 bilionários para seu regime. É o mais rico da história, incluindo a pessoa mais rica do mundo. Eles e Trump fazem parte da oligarquia norte-americana.”

Reich identifica o predomínio econômico-político dos mais ricos desde a fundação da República. “Muitos dos homens que fundaram os Estados Unidos eram oligarcas brancos escravistas. A maioria dos brancos era composta de agricultores, servos contratados, trabalhadores rurais, comerciantes, diaristas e artesãos. Um quinto da população norte-americana era negra, quase toda escravizada.”

O democrata prossegue. Entre o fim do século XIX e o início do XX, escreve, “emergiu a nova oligarquia norte-americana, composta de ricaços que acumularam fortunas por meio de seus impérios ferroviário, siderúrgico, petrolífero e financeiro – homens como John Pierpont Morgan, John D. Rockefeller, Andrew Carnegie, Cornelius Vanderbilt e Andrew Mellon. Foi chamada de Era Dourada”.

Os ricaços corromperam o governo, suprimiram brutalmente os salários, geraram níveis sem precedentes de desigualdade e pobreza urbana, saquearam rivais, eliminaram concorrentes e se comportaram como bandidos, por isso ganharam o apelido de “barões ladrões”. A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão da década de 1930 corroeram a maior parte da riqueza dos barões ladrões e grande parte de seu poder foi eliminado com as reeleições de Franklin Delano Roosevelt.

Roosevelt enfrentou com coragem e sabedoria a Grande Depressão. Em seu discurso de 1936, proferido na campanha para a primeira reeleição, desferiu ataques aos poderes da oligarquia, poderes que precipitaram a crise de 1929. “Mais da metade da riqueza corporativa do ­país estava sob o controle de menos de 200 grandes corporações”, afirmou. “Isso não é tudo. Essas grandes corporações, em alguns casos, nem tentaram competir entre si. Eles próprios estavam conectados por diretores, banqueiros e advogados interligados. Essa concentração de riqueza e poder foi construída sobre o dinheiro de outras pessoas, os negócios de outras ­pessoas, o trabalho de outras pessoas. Sob essa concentração, os negócios independentes só podiam existir por sofrimento. Tem sido uma ameaça ao sistema social, bem como ao sistema econômico que chamamos de democracia norte-americana.”

Roosevelt dizia que a moderna civilização, depois de demolir as velhas dinastias, erigiu outras. “Novos impérios foram construídos a partir do controle das forças materiais. Mediante o novo uso das corporações, dos bancos e da riqueza financeira, da nova maquinaria da indústria e da agricultura, do trabalho e do capital – nada disso foi sonhado pelos fundadores da pátria –, a estrutura da vida moderna foi totalmente convertida ao serviço da nova realeza. Não havia lugar nos seios da nova nobreza para abrigar os milhares de pequenos negócios e comerciantes que desejavam fazer um uso sadio do sistema norte-americano de livre-iniciativa e busca do lucro.”

Ficou exposta a fratura entre a “classe financeira” de Wall Street, as carências da indústria e os interesses da grande maioria da população, barbaramente maltratada pelo desemprego.

No New Deal, o poder e o prestígio de Wall Street chegaram ao fundo do poço, como atestam as seguidas manifestações iradas contra a ganância dos banqueiros. Roosevelt atacou os “príncipes privilegiados” das novas dinastias econômicas. “Sedentas de poder, elas se lançaram ao controle do governo. Criaram um novo despotismo envolvido nas roupagens da legalidade. Mercenários a seu serviço trataram de submeter o povo, seu trabalho e sua propriedade.”

A política econômica de Roosevelt significou a vitória do indivíduo-cidadão sobre o individualismo selvagem dos que se enriqueceram à farta nos ciclos anteriores de prosperidade. O cidadão-trabalhador não deveria mais ficar à mercê das idiossincrasias do mercado, dos caprichos do processo de concorrência. A sindicalização incentivada por Roosevelt impulsionou a elevação dos salários reais e, ao mesmo tempo, o Social Security Act de 1935 passou a proteger os mais débeis “dos sérios problemas criados pela insegurança econômica na sociedade industrial”. A elevação da carga tributária e o caráter progressivo dos impostos surrupiaram a renda dos mais ricos.

Donald Trump dedica-se à reconstrução dos poderes da oligarquia econômico-financeira. Esse propósito está se afirmando na destruição das instituições ocupadas em garantir os direitos sociais e econômicos dos menos favorecidos. •

Publicado na edição n° 1367 de CartaCapital, em 25 de junho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A vingança dos barões’

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Last Update: 18/06/2025