O mundo real

por Luís Carlos

Flexibilidade e equilíbrio são características à beira da fossilização no ambiente virtual, que cada vez mais influencia e direciona o mundo real. Vale para a política, para a religião, para a cultura, para a culinária e muito mais. Meu momento de vitória é a liberação; meu ato de justiça é o compromisso. Quem não se adaptar a isso, que ceda seu lugar na janela do avião a uma criança chorona.

Mas o mundo real ainda é o lugar dos acordos, das decisões e dos atos. E é quase certo sairmos sempre enriquecidos quando abrimos olhos e ouvidos para as palavras daquelas e daqueles que, por distâncias ou diferenças, aparentemente não teriam nada a nos acrescentar.

“A guerra da Ucrânia é um tema que faz de mim uma ovelha negra na família europeia”, disse em visita ao Brasil Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, de juventude comunista e de maturidade social-democrata, o que demonstra que, ao menos nominalmente, é um homem com grande admiração por coisas antigas e fora de moda.

O premiê eslovaco entende que a Ucrânia não voltará a ter as mesmas fronteiras de antes do início do conflito, e vê a Rússia como um jogador que não lida bem com blefes. E, ao citar as ocorrências envolvendo a Tchecoslováquia em 1938 e o papel do Exército Vermelho poucos anos depois, no fim da Segunda Guerra Mundial, revela conhecimento do passado, outro valor que atualmente não se acha com muita facilidade nas prateleiras da política.

Robert Fico falou com a imprensa brasileira e mostrou o pragmatismo de quem está no poder pela quarta vez num país tão símbolo quanto vítima de ser europeu: uma região que não sabe seu tamanho porque suas fronteiras avançam e retrocedem; um povo que é uma soma de muitos, mas se permite olhares de afeto ou ódio dependendo do momento e do armamento; uma terra de sobreviventes por onde passam, passaram e passarão idiomas e religiões.

Sua visão sobre o que acontece a leste do Velho Continente é, a um só tempo, melancólica e animadora: acabe o conflito como e quando for, dia desses acordaremos com Ucrânia, Rússia e o restante do planeta cumprindo cada qual seu papel no concerto do mundo.

Isso, claro, se o fim for determinado por pessoas civilizadas numa mesa de negociação.

Uma mesa de negociação real, provavelmente de madeira, ocupada por pessoas também reais.

Até lá o mundo virtual seguirá fazendo vítimas, com microfones abertos para o lobby da indústria armamentista; para os interesses financeiros de corporações com bandeiras mas sem pátrias; para fetichistas diversos que só a psicanálise nos ajudará a compreender.

Enquanto isso, continuaremos analisando e tentando entender, socraticamente, cada capítulo dessa e de outras tantas desinteligências da humanidade.

Luís Carlos é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

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Last Update: 12/12/2024