A ultradireita global e seu discurso de ódio, violência e racismo
por Maíra Vasconcelos
O discursodos líderes da extrema-direita mundial, como de qualquer outra autoridade política, são reproduzidos pela mídia como parte do papel que a mídia deve cumprir. Essa ponte feita pelo jornalismo, entre o poder público e a sociedade, hoje, parece ter se transformado em uma difusão de exemplos de discursos de ódio, de racismo, misoginia e anti-direitos.
O jornalista Sebastián Lacunza, em seu artigo, “E Milei vai: competição pela crueldade, máscaras que caem e contrapesos que se apagam”, no jornal “El DiarioAR”, lista algumas das posturas políticas que esses líderes da extrema têm seguido.
“A extrema-direita, por outro lado, assume formas estatais e paraestatais de facto para anular o que é percebido como uma ameaça. Não há direitos das minorias, instituições ou tratados internacionais a respeitar perante o objetivo supremo de recuperar a suposta “glória perdida”, esse lugar-comum dos ultras do mundo”. Logo, Lacunza lembra também que, segundo os cientistas políticos, há uma diferença entre extrema e ultradireita.
“Aí reside uma diferença que os politólogos destacam entre as categorias de ultradireita e extrema-direita. Com todo o seu ódio, a ultradireita atua num dos extremos do arco ideológico a partir do qual disputa a hegemonia, mas dentro das regras do sistema”.
Essa narrativa política está orientada dentro de determinadas características radicais, presidentes seguidores dessa ideologia têm repetido como um mantra a ideia de uma cultura orientada a desmantelar direitos sociais que prezam por justiça e igualdade, uma cartilha anti-feminista, anti-ecologia, anti-imigrantes.
Há fartos exemplos. “Esquerdistas filhos da puta”, “vamos buscá-los em todo canto do planeta pela defesa da Liberdade”. A mensagem, em tom de ameaça, é do presidente Javier Milei, em sua conta no X, ex-Twitter, quando saiu em defesa de Elon Musk. Pois o multimilionário fez um gesto imitando a saudação nazista, durante a assunção de Donald Trump.
O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, disse em campanha, ano passado, que os haitianos, em Ohio, comem cachorros. Também chegou a dizer que a delinquência na Venezuela havia diminuído, pois estavam trasladando os criminosos do país aos Estados Unidos. “São narcotraficantes, criminosos, assassinos e estupradores. Mudaram todos para os Estados Unidos”.
Apesar do conteúdo dos discursos, a mídia não reproduz assombros e espantos diante de fatos cotidianos e históricos, ou, ao menos, o que deveria é manter o que se poderia chamar de rigor informativo. O jornalismo trabalha com a informação como ferramenta. A sua função social é zelar pela manutenção do direito civil à informação.
Então, por isso mesmo, a mídia teria algo a fazer diante de falas racistas e anti-direitos humanos? Isso seria tomar partido ou primar pela manutenção de valores caros ao desenvolvimento de uma sociedade mais justa e menos desigual? Ainda que exista público e seguidores favoráveis a tais discursos violentos da extrema-direita, isso talvez não signifique que os meios de comunicação não devam intervir e posicionar-se. Se é o jornalismo que forma o público e não o contrário.
Afinal, se o público vem guiando os parâmetros de notícias dos meios, estamos em maus lençois. Os veículos de comunicação não podem se tornar simples servidores da massa. O bom funcionamento do jornalismo significa, consequentemente, o cumprimento do seu papel social de regulador de parâmetros sociais de convivência e ordem democráticas.
Os meios de comunicação deveriam se posicionar, por exemplo, em editoriais, frente a essa recente onda cultural da ultradireita que trabalha para derrubar parâmetros sociais dedicados à luta e manutenção da igualdade social? Além do mais, também é parte dessa mesma política da extrema-direita atacar e agredir jornalistas. Javier Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, atuam nesse sentido e há diversos casos de agressão e insulto a jornalistas. Pois, como se sabe, o jornalismo funciona como um termômetro que mede o nível democrático de qualquer sociedade.
Maíra Vasconcelos é jornalista e escritora, de Belo Horizonte, e mora em Buenos Aires. Escreve sobre política e economia, principalmente sobre a Argentina, no Jornal GGN, desde 2014. Cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina (Paraguai, Chile, Venezuela, Uruguai). Escreve crônicas para o GGN, desde 2014. Tem publicado um livro de poemas, “Um quarto que fala” (Urutau, 2018) e também a plaquete, “O livro dos outros – poemas dedicados à leitura” (Oficios Terrestres, 2021).
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