A semana passada começou com um tom de incerteza, com quedas nas bolsas de valores em todo o mundo, aumento do dólar e nervosismo nas finanças em geral. A bolsa de Tóquio caiu 12% na segunda-feira, apresentando o pior resultado em 37 anos, gerando um efeito dominó nas bolsas dos países asiáticos. Nos EUA, as bolsas de valores também apresentaram quedas drásticas, com destaque para o índice Nasdaq, que recuou 3,43%. No Brasil, o Ibovespa caiu 0,46% e o dólar aumentou, chegando a R$ 5,86 na segunda-feira.

O estopim da crise nos mercados de risco foi a divulgação de um relatório sobre o mercado de trabalho dos EUA, que mostrou uma menor criação de vagas na economia, criação de 114 mil vagas em julho, quando a expectativa era de 185 mil. Foi a menor contratação em praticamente três anos, e o fenômeno contribuiu para elevar a taxa de desemprego para 4,3%. O problema é mais profundo, na verdade, esses dados do mercado de trabalho apontam a possibilidade de uma recessão na economia norte-americana.

A desaceleração da economia dos EUA já era esperada, mas esses indicadores apontam um recuo mais forte do que o previsto. Os dados do mercado de trabalho conflitam, inclusive, com outras informações sobre o setor imobiliário e a condição financeira das famílias, que não apontam para um horizonte de recessão imediata. De qualquer forma, em setembro, segundo a maioria das previsões, o Federal Reserve (Fed) deve iniciar um ciclo de redução da taxa de juros, que se encontra atualmente entre 5,25% e 5,50% ao ano, visando reanimar a economia.

Um dos problemas dessa instabilidade internacional para o Brasil é a pressão inflacionária, já que um real desvalorizado, se mantido por um certo tempo, torna os produtos importados mais caros, especialmente os insumos utilizados pela indústria, pressionando o nível inflacionário. Da mesma forma, pode haver pressão sobre os preços dos alimentos, na medida em que um dólar mais caro estimula o aumento das exportações, reduzindo a oferta interna dessas commodities.

As recentes turbulências nos mercados, que podem se repetir a partir de qualquer nova informação mais importante, principalmente originária dos EUA, refletem uma crise econômica e política mais estrutural, que impacta o conjunto dos países imperialistas, mas especialmente sua proa, os EUA. Nesse quadro, destaque para a crise de hegemonia do dólar, peça essencial na dominação econômica norte-americana.

A decisão da Arábia Saudita em relação à não renovação do acordo de Petrodólares é um passo importante nesse sentido, pois abre a possibilidade de os países importadores e exportadores utilizarem outras moedas, não ficando diretamente à mercê da ditadura do dólar. A Arábia Saudita está participante de um projeto de moeda digital, coordenado pelo banco central da China, que envolve outros países como, Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes Unidos.

Uma das razões para a decisão do governo saudita é o comércio cada vez mais significativo com países como China, Índia, Japão e Rússia, que apostam numa maior independência em relação ao dólar. Mesmo no caso do Japão, que é um país imperialista, altamente dependente e próximo dos EUA.

O que falta para os EUA resolver um problema tão fundamental é que quem manda no país ganha muito dinheiro com essa roda gigante especulativa: os bancos, grandes empresas, os ricos em geral. Ou seja, 0,5% da população, em prejuízo de 99,5% dos norte-americanos. A pobreza nos Estados Unidos atinge cerca de 12% da população.

Para o governo dos EUA conseguir rolar a dívida, a demanda global por dólares e por títulos de dívida dos EUA deve se expandir permanentemente. Resultado que tem sido conseguido, até aqui, pelo argumento da força. Esse verdadeiro castelo de cartas se mantém porque os EUA têm o poder da senhoriagem, ou seja, pode imprimir, sem custo, uma moeda com aceitação e curso internacional.

A hegemonia do dólar já tem quase 80 anos, vem desde os Acordos de Bretton Woods, feitos em 1944. Em boa parte, a dominação imperialista se dá sobre essa dominação da moeda. Quando os líderes do Brics mencionam substituir o dólar pelas moedas nacionais, ou por uma futura moeda do bloco, significa quase uma ameaça de morte para o imperialismo, porque boa parte do poderio norte-americano está assentado sobre o privilégio de sua moeda nacional ser a moeda de curso mundial nas transações econômicas.

A decisão da Arábia Saudita em relação à não renovação do acordo de Petrodólares está dentro deste quadro mais geral de crise política, social e financeira do imperialismo em geral, e do império norte-americano, em particular. A Arábia Saudita e outros importantes produtores de petróleo, percebendo as mudanças na ordem internacional, estão diversificando o seu comércio, reduzindo o peso do dólar norte-americano na sua carteira de ativos.

Não há dúvidas que teremos muitas emoções com a economia e a política internacionais, nos próximos anos.

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Última Atualização: 13/08/2024