
Jornalistas com pinta de valentes, mas que nunca defenderam colegas cercados pelo fascismo na Justiça, aderiram com força ao que Luan Araújo define como “um pacto da branquitude, que está mais ativo, articulado e despudorado do que nunca”.
O pacto dos brancos é para defender o direito absoluto de expressão do humorista Léo Lins, condenado por piadas preconceituosas. Araújo – o jornalista negro perseguido por Carla Zambelli com arma em punho pelas ruas de São Paulo em 2022 – deixa claro que não defende a condenação do sujeito.
Nem ele, nem eu. A condenação a oito anos de cadeia não tem sentido. Vamos repetir: que a condenação seja revogada. E que passemos a debater o que as piadas racistas, homofóbicas, misóginas e nojentas de Lins representam.
É isso que artistas pretensamente da turma de Lins não querem debater. Eles querem sugerir que, por serem contra as piadas do sujeito, todos os seus críticos seriam sabotadores da criatividade do pilantra e das liberdades.
Não é nada disso. O que se se pede é que Lins reveja o que faz. Não que seja contido por sentenças que o condenem à cadeia, mas que o sistema de Justiça exerça suas amplas possibilidades de mediação, punição e reparação.
Não se trata de censura. Mas de arbitrar o que deve ser feito para impedir que ele continue produzindo piadas sobre crianças autistas, sobre estupro de crianças e sobre negros e pessoas com deficiência.
Não, não é normal que o cara considere, como escreve Araujo em texto publicado no DCM, que “a dor alheia – principalmente a dor negra – é menos importante que a liberdade de um branco em fazer piada com ela”.
O Merval Pereira defendeu o direito do Leo Lins fazer piadas racistas e não ser criminalizado. Ainda invocou o conceito de democracia pra embasar esse tipo de ideia. Definitivamente, a academia brasileira de letras perdeu por completo o seu prestígio!pic.twitter.com/11VnBIqEpQ
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) June 4, 2025
O direito de fazer piadas de Lins não pode estar acima dos direitos dos ofendidos, agredidos e violentados pelo que ele diz, num país em que uma das armas da extrema direita é desqualificar e violentar os diferentes e incitar ódio contra negros, gays e todos os diferentes.
Vou repetir aqui a pergunta que Araújo faz e todos nós faremos: por que tantos jornalistas, humoristas e artistas brancos correram para defender esse indivíduo? Por que tantas celebridades de esquerda ergueram trincheiras para o racista?
Vamos amplificar as perguntas: por que Lins tem uma defesa apaixonada e intensa de jornalistas que nunca defenderam colegas submetidos ao assédio judicial de poderosos com vínculos com o fascismo e protegidos por juízes paroquiais?
A liberdade de Lins é de uma categoria especial de liberdade? Por que vozes antes silenciosas diante do cerco de extremistas a jornalistas de esquerda estão gritando tanto pelo humorista que debocha de contingentes atacados pelo bolsonarismo?
A verdade é que os apoiadores do humorista do racismo recreativo são principalmente os temerosos do poder econômico e político do fascismo. São valentes até por ali. Quase todos são cagões. Os que ainda não são, um dia chegarão lá.
DEU NA FOLHA
Para os que riem das piadas de Léo Lins. Segundo relatório da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o Brasil é o país que mais mata trans e travestis no mundo – foram 122 assassinatos no ano passado, mantendo o país na liderança do ranking pelo 16º ano seguido.