Mais uma vez a Transparência Internacional Brasil entra no jogo político, com uma nota bombástica: “Brasil registra pior nota e pior posição da série histórica do Índice de Percepção da Corrupção”.

No final do ano passado, a CGU (Controladoria Geral da União) lançou o Plano de Integridade e Combate à Corrupção 2025-2027.

Foi um plano elaborado com consultas à sociedade e um grau de detalhamento raro no serviço público. Entende a corrupção como um problema complexo, que exige capacidade de detecção, repressão e dissuasão dos atos de corrupção, mas também a construção de medidas de políticas públicas, promoção e fortalecimento da integridade pública.

O plano é dividido entre cinco eixos temáticos:

  1. Controle da qualidade do uso dos recursos públicos.
  2. Integridade nas relações estado-setor privado.
  3. Transparência e governo aberto.
  4. Combate à corrupção.
  5. fortalecimento institucional para a integridade.

A partir daí, se desdobra em uma lista de ações, relacionadas com cada eixo.

Qual a razão do auê preparado pela Transparência Internacional Brasil e repetida por vários jornais? Desacreditar qualquer iniciativa que não abra espaço para seu jogo de interesses.

Desde 2019 o Jornal GGN vem alertando para  o jogo de interesses da Transparência Internacional Brasil e sua própria falta de transparência.

Se entrar no site da Transparência Internacional Brasil, verá fotos de várias pessoas com cartazes contra a corrupção e em defesa da transparência. Seu menu explica “quem somos”, “o que fazemos”. Há uma parte de comunicados oficiais, visando rebater denúncias formuladas contra ela. Há uma página inteira de “Notas Públicas”. A partir dela se chega à nota “Resposta à matéria “Como a Transparência Internacional repetiu a jogada da fundação Lava Jato na Operação Greenfield”, publicada pelo Jornal GGN em 5 de agosto de 2024.

Segundo a nota:

“Todas essas afirmações são distorções da publicação “Governança de recursos compensatórios em casos de corrupção: guia de boas práticas para promover a reparação de danos à sociedade”, que está disponível desde 2019 no site da Transparência Internacional – Brasil, acessível para qualquer pessoa verificar o real teor desse trabalho. Além disso, são reiterações de fake news sobre acordos de cooperação técnica assinados entre o MPF e a Transparência Internacional em 2014 e 2017, expirados em 2019. Ambos os acordos vedavam explicitamente qualquer repasse financeiro à Transparência Internacional e jamais previram qualquer papel de gestão de recursos à entidade”

Indo ao Memorando de Entendimento apontado pela nota. confere-se o seguinte:

  • Considerando que as organizações da sociedade civil e os indivíduos que realizam o controle social da corrupção no Brasil — assim como na grande maioria dos países — atuam em ambientes hostis, com escassas fontes de recursos e, ainda mais grave, expostas a ameaças e retaliações, inclusive violentas; 
  • Considerando que, no propósito de fortalecer e qualificar a atuação da sociedade civil, a TI vem recomendando que uma parcela das multas pecuniárias advindas de acordos de leniência firmados entre órgãos estatais e empresas sancionadas por corrupção seja endereçada a organizações sociais que atuam no controle social, entre outros temas de relevante interesse social, como a promoção dos direitos fundamentais da pessoa humana 
  • Considerando o ofício da Procuradoria-Geral da República (PGR) (Ofício-Gab/PGR 91 6/2017/AC/SCI/PGR – Anexo 5) que expressa concordância e reafirma o interesse do MPF em contar com o conhecimento e a experiência da TI para aconselhar gratuitamente a estruturação do sistema de governança do desembolso de recursos destinados a projetos sociais por parte da J&.E. no âmbito do Acordo de Leniência celebrado com o MPF e que, nesse mesmo ofício, a PGR ressalta a competência dos promotores naturais de primeira instância para a definição final sobre esta cooperação institucional.

É fantástico! O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, atropela a lei no. 12.846 de 1o de agosto de 2013, que define a Controladoria Geral da União (CGU), como órgão responsável para celebrar acordos no âmbito federal, “com o objetivo de garantir a integridade e a transparência nas relações entre o setor público e o privado”. Os recursos devem ser remetidos ao Tesouro Nacional. Mas Janot assina com uma entidade privada, a Transparência Internacional Brasil, um acordo pelo qual ela ajudará a direcionar as verbas bilionárias resultantes dos acordos de leniência. É um caso clássico de improbidade administrativa.

E tudo isso, sem cobrar um tostão! Ou seja, a TI poderia direcionar para o Instituto Mude, de Deltan Dallagnol, à Amarribo (a ONG responsável por trazer a TI ao Brasil), cujo fundador, Josmar Verillo, tornou-se lobista da Paper Excellence, sem cobrar um tostão por isso. 

Contamos essa história de Josmar Verillo – a pessoa responsável por trazer a TI ao Brasil – no post “Caso Eldorado expõe os negócios obscuros da indústria da anticorrupção

No portal da TI internacional, há todo um capítulo referente a conflito de interesses:

Não há nenhuma informação sobre as medidas tomadas, quando se descobriu o trabalho de lobby de Verillo.

Em 11 de dezembro de 2020, já tínhamos percebido as jogadas da TI, relatadas no artigo “Xadrez da Transparência Internacional e a indústria da anticorrupção”. O portal da TI internacional traz uma lista parcial de financiadores. Mas não há uma linha sobre o direcionamento de verbas para a TI Brasil. Suponha que uma empresa norte-americana tivesse interesse na destruição das empreiteiras brasileiras. A TI teve papel relevante na defesa da Lava Jato.

O índice de corrupção

O IPC mede a percepção da corrupção, e não a ocorrência real de corrupção. Isso significa que ele reflete a opinião de especialistas e empresários, e não necessariamente a experiência direta da população geral. Além disso, a exposição de casos de corrupção e investigações pode impactar negativamente a percepção, mesmo que isso indique um esforço ativo de combate à corrupção.

A metodologia do IPC não é revista desde 2012. Mesmo assim, é amplamente utilizado por governos, organizações internacionais e sociedade civil para embasar políticas públicas e debates sobre transparência e integridade. 

Por exemplo, a Lava Jato poupou a Trafigura de escândalos relacionados com a Petrobras. Chegou a prender um membro do board da Trafigura, Mariano Marcondes Ferraz, delatado por Paulo Roberto Costa. Soltou-o uma semana depois e o processou por bicos feitos para a Decal, uma empresa italiana instalada no Porto de Suape, e minúscula perto da Trafigura. No ano passado, o Departamento de Estado denunciou a Trafigura por corrupção cometida no Brasil.

Esconder a Trafigura na Lava Jato traz uma enorme suspeita de corrupção. Entrou no ranking da TI? É evidente que não.

Por tudo isso, a Transparência Internacional Brasil é uma organização sem critérios mínimos em sua política de integridade.

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Last Update: 12/02/2025