Ao adotar a toga, especialmente nos tribunais medievais, pretendia-se afastar a individualidade do juiz, conferindo-lhe neutralidade e autoridade derivadas exclusivamente da lei. O costume servia para ocultar distinções sociais e vaidades pessoais, reafirmando a ideia de que a Justiça deve ser cega, imparcial e impessoal. Essa tradição, preservada em diversas democracias modernas, sofreu, no Brasil, uma inquietante inversão. Entre nós, a toga – que deveria dissolver o ego em prol da instituição – passou a ser instrumento de afirmação pessoal. O Supremo Tribunal Federal, a quem caberia zelar por esse ideal, tornou-se, paradoxalmente, exemplo de seu desvirtuamento. A toga, longe de uniformizar, passou a ser usada como extensão da personalidade dos ministros: símbolo de prestígio, poder e individualismo. Assim, gestos, poses e aparições públicas revelam não mais servidores da lei, mas personagens de si mesmos. E, diante desse novo cenário, pouco importa a função pública que a toga deveria consagrar; ela hoje serve apenas de moldura para vaidades que se julgam inatingíveis. (foto/reprodução internet)
