Chanceler alemão Friedrich Merz ouve Trump gabar-se de ter cortado o Nord Stream 2.

Historiadores e estudiosos de diplomacia terão dificuldade de encontrar o momento mais degradante, o exemplo mais humilhante de vassalagem de um país em relação ao outro do que na coletiva de imprensa do presidente Trump com o atual chanceler alemão Friedrich Merz. O encontro, realizado ontem no Salão Oval da Casa Branca, testemunhou o presidente americano gabar-se, na cara do chanceler alemão, de que trabalhou para cortar o gasoduto russo Nord Stream 2 para que a Alemanha fosse obrigada a comprar petróleo americano.

“Fui eu quem acabou com o Nord Stream 2, indo para um lugar chamado Alemanha, agora que penso nisso. Me desculpem por ter feito isso. Eu acabei com o Nord Stream 2, ninguém mais fez. E então, quando o Biden assumiu, ele imediatamente aprovou… E, a propósito, temos tanto petróleo e gás que vocês não vão conseguir comprar tudo”, disse Trump, rindo, se dirigindo a Merz.

Friedrich Merz, líder conservador da CDU que assumiu como chanceler alemão em 6 de maio de 2025, e faz sua primeira viagem aos EUA, após tomar posse, ouviu a confissão de Trump com um sorriso constrangido. A propósito, a postura de Merz, ao longo de toda a sua conversa, é repugnante. Corpo, voz, palavras, gestos, toda a sua figura exala um odor horrível de vassalagem, submissão e baixa autoestima. É constrangedor assistir.

A declaração de Trump foi um reconhecimento explícito do maior ato de sabotagem contra a infraestrutura estratégica europeia desde a Segunda Guerra Mundial. O Nord Stream 1, que sofreu explosões em setembro de 2022, e o Nord Stream 2, que nunca entrou em operação, representavam uma infraestrutura construída com recursos europeus para transportar gás russo de uma das maiores reservas do mundo para a União Europeia.

O projeto Nord Stream 2 custou 9,5 bilhões de euros (10,83 bilhões de dólares na cotação atual), financiado pela estatal russa Gazprom com apoio de cinco empresas europeias de energia: OMV da Áustria, a anglo-holandesa Shell, Engie da França, e as alemãs Uniper e Wintershall. Todo esse investimento foi perdido após a sabotagem dos gasodutos, sobre a qual nem a Europa nem a Alemanha se mobilizaram adequadamente para investigar as verdadeiras responsabilidades.

Os números revelam a dimensão do projeto destruído. O Nord Stream 1, com capacidade de 55 bilhões de metros cúbicos anuais, transportou 59,2 bilhões de metros cúbicos em 2021, sua marca mais alta desde o início das operações. O Nord Stream 2, concluído em setembro de 2021 mas nunca posto em funcionamento, dobraria essa capacidade para 110 bilhões de metros cúbicos anuais. Juntos, os gasodutos representavam mais da metade do volume de gás que a Europa importava da Rússia.

O absurdo da situação torna-se ainda mais evidente quando analisamos os custos e o impacto econômico. A Alemanha consome aproximadamente 100 bilhões de metros cúbicos de gás natural por ano, dos quais 55% eram importados da Rússia antes do conflito ucraniano. Dados do primeiro trimestre de 2025 mostram que a União Europeia pagou em média 1,08 euros (1,23 dólares) por metro cúbico de gás natural liquefeito americano – exatamente o dobro dos 0,51 euros (0,58 dólares) pagos pelo gás russo liquefeito. O gás russo por gasoduto, quando ainda disponível, custava apenas 0,32 euros (0,36 dólares) por metro cúbico.

Os cálculos são devastadores para a economia alemã. Se a Alemanha ainda comprasse seus 55 bilhões de metros cúbicos anuais de gás russo por gasoduto em vez do gás americano liquefeito, economizaria 47,85 bilhões de dólares por ano. Em uma década, essa economia chegaria a 478,5 bilhões de dólares – uma quantia que supera em mais de 44 vezes o investimento perdido no Nord Stream 2.

A Europa hoje prefere importar gás liquefeito dos Estados Unidos, muito mais caro, através de um sistema muito mais poluente. O gás americano é extraído principalmente por fraturamento hidráulico (fracking), método proibido em diversas partes da Europa por razões ambientais. Nos Estados Unidos, o gás precisa ser liquefeito para poder ser transportado por navios através do Atlântico, chegando à Europa como gás líquido que deve ser novamente transformado em gás. Todo esse processo aumenta drasticamente os custos e o impacto ambiental.

A Alemanha está em crise econômica diretamente por causa dessa mudança forçada. Os custos industriais alemães explodiram após o país parar de comprar gás russo, tornando a energia alemã não competitiva. O gás natural é uma forma de energia particularmente interessante para a produção industrial, e seu encarecimento afeta diretamente a competitividade das indústrias alemãs no mercado global.

As indústrias alemãs estão perdendo competitividade porque a energia está muito cara, enquanto a China se beneficia do gás russo mais barato que agora é redirecionado para o mercado asiático. Wolfgang Münchau, autor do livro “Kaput: The End of the German Miracle”, observa que “o milagre alemão terminou”. No auge da hiperglobalização, o gás russo fornecia combustível barato às indústrias alemãs, mas esse mundo com a Alemanha no topo já não existe mais. As grandes empresas do setor químico, de engenharia e automotivo estão sofrendo, e com elas as redes empresariais menores que fornecem componentes. A Volkswagen, maior empregador do setor privado da Alemanha, ameaça fechar fábricas no país pela primeira vez em 87 anos de história.

Enquanto isso, a Rússia não teve prejuízo algum. O país simplesmente passou a vender para a China em vez de vender para a Alemanha e Europa. A China aumentou sua competitividade em relação à Europa, beneficiando-se do gás russo mais barato que antes abastecia as indústrias alemãs. Os únicos que realmente lucraram com essa operação foram as petroleiras americanas que agora vendem gás liquefeito para a Europa a preços inflacionados, garantindo lucros extraordinários às custas da desindustrialização europeia.

O chanceler alemão Friedrich Merz ouviu tudo isso com um sorriso no rosto durante o encontro na Casa Branca. O grau de vassalagem é surreal. Trump confessou publicamente ter trabalhado para destruir a infraestrutura energética alemã, forçando o país a comprar energia americana mais cara e de pior qualidade, e o representante máximo da Alemanha reagiu como se estivesse ouvindo uma conversa amigável sobre o tempo.

Nunca se viu uma potência confessar tão abertamente ter sabotado a infraestrutura de um aliado, e mais raramente ainda se viu o país sabotado aceitar tal confissão com tamanha submissão. A Alemanha, que um dia foi o motor econômico da Europa, hoje exemplifica como a dependência geopolítica pode transformar uma nação próspera em vassalo econômico de seus próprios “aliados”. Com uma economia que perde 47,85 bilhões de dólares anuais em custos energéticos desnecessários, a Alemanha paga o preço mais alto da história por sua submissão a Washington.

Após o encontro, o chanceler alemão postou a seguinte mensagem em suas redes:

“Os EUA e a Alemanha compartilham o mesmo DNA. Somos parceiros. Somos amigos. Somos literalmente uma família. Muitos cidadãos aqui nos EUA têm ancestrais vindos da Alemanha. Acabei de dar ao presidente Trump uma cópia da certidão de nascimento de seu avô. Ele nasceu em Kallstadt, Alemanha, em 1869”

Traduzir post

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 06/06/2025