A Sombra de Mondlane
À Sombra de Mondlane
por Marílio Wane
Depois de uma eleição histórica e em vésperas de celebrar os 50 anos de independência, os moçambicanos precisam de perguntar se os valores, símbolos e instituições criados para dar forma à “unidade nacional” ainda são legítimos hoje.
No dia 9 de Outubro de 2024, Moçambique realizou as suas sétimas eleições presidenciais, desde a abertura política e a instauração do multipartidarismo, em 1992. Até então, o país vivia sob um regime de partido único, liderado pela Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) como consequência de um processo de independência, em 1975, conquistado no contexto da Guerra Fria, em que o país alinhou-se ao bloco socialista a nível geopolítico.
Assim como tem-se verificado em todas as eleições anteriores, o pleito de 2024 caracterizou-se pelas recorrentes práticas de ilícitos eleitorais dos mais diversos tipos, na maioria das vezes, com o objetivo de favorecer o partido Frelimo.
Como pano de fundo simbólico, o país encontra-se às vesperas de assinalar os 50 anos da sua independência política de Portugal que, entretanto, ocorre num momento de profunda crise nacional.
À parte as questões técnicas e estéticas, este episódio é sintomático de uma problemática estrutural bastante profunda da sociedade moçambicana: a cultura política autoritária, como herança de uma nação construída sob um regime monolítico.
Guardadas as devidas poporções e transpondo-se para a questão eleitoral, as alegações de fraude fundamentam-se nesta percepção, corroborada pelos fatos, da notória confusão entre partido, estado e governo em Moçambique.
Enfim, o ponto de situação é de alto grau de tensão, alimentada por temores de irrupção de violência política.
Moçambique viveu no dia 19 de Outubro uma tragédia que veio a confirmar os piores temores quanto à instabilidade política decorrente de um processo eleitoral marcado por notórias irregularidades a favor do regime.
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