As mentiras sionistas existem desde o surgimento do movimento. Em 1940, uma pequena organização de esquerda da Palestina, denominada Grupo de Socialistas Palestinos, enviou uma carta aberta sobre a situação no país. Isso ocorreu 4 anos antes da fundação do Estado de “Israel”, em 1948. O título da carta deixa claro que a sua posição era de luta “Sionismo: um entreposto do imperialismo”. A carta destaca: “a esmagadora maioria dos árabes são camponeses. Os sionistas orgulham-se de terem trazido colheitadeiras, máquinas de debulha e incubadoras para a Palestina, alegando que introduziram um progresso gigantesco – em suma, que o sionismo é progressista. Pode-se argumentar nessa linha que os italianos trouxeram carros, tratores, arados modernos, bem como o rádio para a Abissínia e a Tripolitânia, o que não significa, contudo, que sua colonização foi progressista. O critério decisivo é se a população indígena – aqui na Palestina, os árabes – obtém algum benefício desse progresso, e se esse colonial-imperialismo, ou melhor, sua consolidação”.
Aqui é o argumento tradicional dos colonizadores britânicos. Eles levam o capitalismo aos países que oprimem e por isso são progressistas. Isso poderia ser verdade no século XIX, apesar de que isso não excluía que os indianos, por exemplo, tinham o direito de lutar contra a opressão britânica. Mas no período imperialista esse desenvolvimento se tornou uma farsa. O desenvolvimento dos países oprimidos se deu sempre lutando contra o imperialismo.
Ele então mostra como não houve desenvolvimento para os palestinos: “consideremos este primeiro ponto. O fellah [camponês] árabe ainda ara com um arado de madeira, consistindo de um galho grosso no qual ele enfia um grande prego, e ele arranha a superfície da terra até uma profundidade máxima de 10 centímetros. Um especialista que pesquisou a agricultura árabe comenta sobre esse fato: ‘O arado árabe se assemelha ao dos antigos judeus, e pode-se supor que o arado antigo era ainda melhor’. (Vilkanski: A Fazenda do Fellah, página 18). Em vez de uma máquina de debulha, o fellah usa uma tábua de madeira com pedras presas embaixo, que é puxada por um burro ou um cavalo. Sobre essa tábua, o fellah ou seu filho passeia por dias e dias sobre sua eira. Tampouco a incubadora penetrou no vilarejo árabe”.
Ou seja, os palestinos viviam na pobreza extrema enquanto os sionistas europeus criavam uma sociedade capitalista e moderna. Isso se agravou após a limpeza étnica na Palestina.
E ele segue: “o progresso técnico multiplica a produtividade do trabalho. No entanto, o árabe não tira proveito das bênçãos da técnica moderna. Uma tonelada de trigo requer 5,2 dias de trabalho em uma fazenda judaica, enquanto o fellah necessita de 55,9 dias de trabalho para a mesma quantidade, ou seja, dez vezes mais. (Dr. Horovitz e Rita Sinden: Pesquisa Econômica da Palestina, página 41). Não só sua produtividade é baixa, seu inventário pobre, mas também seu gado: sua vaca – se ele tiver alguma – produz 600-700 litros de leite por ano; enquanto uma vaca em uma fazenda judaica dá uma média de 3.000-4.000 litros. A galinha comum em uma fazenda árabe põe 40 ovos por ano – a boa raça em fazendas judaicas põe 150!”
A carta ainda denuncia que a limpeza étnica já acontecia antes da fundação de “Isreal”: “apesar de todas as declarações dos líderes sionistas de que nenhum árabe seria expulso de sua terra, eles foram obrigados a admitir à Comissão Governamental que investigava esses assuntos em 1930 que 688 famílias de arrendatários árabes já haviam sido removidas de suas fazendas no Vale de Jezreel (Relatório da Agência Judaica enviado a Sir John Hope Simpson). Podemos supor que essa estimativa foi feita de forma muito baixa. Desde 1930, a colonização sionista também aumentou. Podemos, portanto, considerar que alguns milhares de arrendatários árabes perderam suas terras”. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação de “Israel” 800 mil palestinos seriam expulsos de suas terras e cidades!
Eles destacam que os sionistas criaram um regime de segregação que impede o desenvolvimento da economia palestina: “é bastante consistente para o sionismo boicotar os produtos do fellah, pois isso contribui para o atraso e a pobreza da fazenda do fellah; sem esse boicote seria difícil continuar com a expansão sionista. Além disso, sem esse boicote seria impossível manter a economia sionista isolada e manter dois padrões de vida absolutamente diferentes – o modo de vida judaico e o árabe”
E continua: “para manter os produtos da agricultura árabe fora da economia judaica, os sionistas empregaram os meios ‘progressistas e civilizados’ de despejar querosene sobre os vegetais trazidos pelos árabes ao mercado judaico; chutando e espancando esses Fellahs e suas mulheres que ousavam vir ao mercado oferecer seus produtos à venda”.
Por esse exemplo citado fica evidente que a ocupação britânica da Palestina já era quase um Estado de “Israel”. A diferença é que toda a Palestina operava de forma semelhante ao que é a Cisjordânia ocupada hoje e que a violência era um pouco menor, pois ainda não havia acontecido a grande limpeza étnica. A carta aberta ainda comenta a opressão dos operários palestinos, o que será tópico da segunda parte deste artigo.