O governo brasileiro, através de uma carta do ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, deu uma resposta elegante mas dura a uma reportagem enviesada da revista britânica The Economist.
A revista havia feito uma crítica pesada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em artigo publicado no dia 29 de junho de 2025, com o título “Luiz Inácio Lula da Silva colocou o Brasil no mapa, mas não se adaptou a um mundo em transformação”.
As críticas da revista britânica
A The Economist alegou que Lula estava perdendo influência no cenário internacional e vendo sua popularidade despencar no Brasil. Na política externa, a revista criticou duramente a postura do Itamaraty, que havia condenado os ataques dos EUA e Israel ao Irã em 22 de junho de 2025.
A participação do Brasil nos BRICS, agora com o Irã no grupo, foi caracterizada pela revista como um sinal de “hostilidade ao Ocidente”. A publicação também criticou o fato de Lula não ter cumprimentado o presidente americano Donald Trump, apontando o Brasil como “a maior economia cujo líder não encontrou Trump”.
A revista destacou que Lula havia se encontrado duas vezes com Xi Jinping, da China, em 2024, e esteve em Moscou nas comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial, tentando mediar o conflito na Ucrânia sem grande sucesso.
Críticas ao cenário interno
No front doméstico, a The Economist citou uma pesquisa do Datafolha de junho de 2025 que mostrava Lula com 40% de desaprovação contra 35% de aprovação, o pior número desde o início do mandato em 2023. A revista associou o PT a escândalos antigos de corrupção e afirmou que o Brasil estava se voltando à direita.
A derrubada de um decreto do IOF pelo Congresso foi usada como exemplo da fraqueza política de Lula. Para fechar, a revista sugeriu que Lula deveria “parar de fingir que importa” e focar nos problemas domésticos.
A resposta brasileira contesta as críticas
Em 1º de julho de 2025, o ministro Mauro Vieira enviou uma carta à The Economist, publicada no dia 2, contestando ponto por ponto as críticas da revista. Vieira defendeu Lula como uma liderança global que promove democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo.
A carta destacou a liderança do Brasil no G20, a aliança contra a fome e a proposta de taxar bilionários. Vieira reforçou que Lula tem o respeito de humanistas e líderes do Sul Global, que veem no Brasil um contraponto ao domínio ocidental.
O ministro também defendeu a posição brasileira em relação aos ataques ao Irã, afirmando que a condenação decorreu do fato de que tais ataques constituem uma “violação flagrante da Carta da ONU”.
Outros líderes também enfrentam baixa popularidade
Enquanto isso, outros líderes mundiais também enfrentavam seus próprios desafios de popularidade em junho de 2025. Nos EUA, pesquisa Quinnipiac mostrou Trump com apenas 38% de aprovação contra 54% de desaprovação, o menor índice de seu segundo mandato.
No Reino Unido, Keir Starmer registrou apenas 28% de opinião favorável segundo pesquisa YouGov, enquanto na França, Emmanuel Macron oscilava entre 21% e 29% de aprovação em diferentes pesquisas do período.
Íntegra da carta do ministro Mauro Vieira:
O governo brasileiro responde ao nosso artigo sobre o presidente Lula
O presidente é um defensor das instituições multilaterais, inclusive no comércio internacional
2 de julho de 2025Gostaria de oferecer uma perspectiva em relação ao seu artigo que afirma que o presidente do Brasil está perdendo influência no exterior e é impopular em casa (“Faded dreams”, 29 de junho).
Pouquíssimos líderes mundiais, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm sido tão consistentes na defesa de quatro pilares essenciais para a humanidade e para o planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. À frente do G20 no ano passado, o presidente Lula teve êxito na difícil tarefa de promover o consenso entre os membros, ao mesmo tempo em que conseguiu lançar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. O G20 também apresentou uma proposta ousada para taxar bilionários, o que pode ter incomodado alguns oligarcas.
O Brasil vê os BRICS como uma voz essencial na luta por um mundo multipolar menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência tem se concentrado em fortalecer o perfil do grupo como uma plataforma de diálogo político em favor da reforma da governança global e da cooperação para promover o desenvolvimento e a sustentabilidade.
Sob a liderança do presidente Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional na defesa da democracia. O Brasil também tem sido um parceiro confiável na promoção da segurança para investimentos, bem como na defesa das regras do comércio internacional acordadas de forma multilateral.
Como um país sem inimigos, o Brasil é defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não adotamos uma abordagem seletiva ao direito internacional, nem interpretações elásticas do direito à autodefesa. O presidente Lula tem sido um apoiador consistente e eloquente da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição brasileira em relação aos ataques ao Irã, especialmente às suas instalações nucleares, está alinhada com esse compromisso. Nossa condenação decorre do fato de que tais ataques constituem uma violação flagrante da Carta da ONU. Eles também desrespeitam as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminações radioativas e desastres ambientais em larga escala.
Desde 2023, durante o atual mandato do presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que defende a necessidade de abrir caminho para uma solução diplomática para o conflito.
O presidente Lula, de fato, não é popular entre os negacionistas do clima. Em meio a uma nova corrida armamentista, ele faz parte de uma minoria de líderes que denuncia a irracionalidade de investir em destruição, em detrimento da luta contra a fome e o aquecimento global.
Para os humanistas em todo o mundo — incluindo políticos, empresários, acadêmicos e defensores dos direitos humanos — o respeito ao presidente Lula é indiscutível.
Mauro Vieira
Ministro das Relações Exteriores do Brasil
Brasília