A Riviera de cada um
por Felipe Bueno
Pobres ou ricos, todos temos em nossos devaneios uma riviera ideal, com areia branca e mar azul, sol, brisa e preguiça. Quanto menos ocupada melhor, e não há dúvida de que, se pudéssemos, contrataríamos os serviços do gênio argentino – redundância – que, recentemente, no Brasil, colocou em prática um sistema que silencia caixas de som que ofendem nosso gosto musical e nossa saúde auditiva.
Em geral, em nome da boa convivência e até pela distância da realidade, guardamos para nós mesmos nossos pensamentos, mas há quem faça diferente.
Vivemos um tempo em que, em rede planetária, o mandatário da nação ainda mais influente do planeta junta-se a seu séquito para, em poucas palavras, declarar que a solução da questão palestina está em transformar parte da região num resort. Algo tão simples quanto anexar a Tchecoslováquia, quer dizer, o Canadá e a Groenlândia – afinal, estamos em 2025 e não em 1939.
Se o devaneio imobiliário não se transformar em realidade sob o sol do Oriente Médio, sobrará o certamente o descanso alternativo em alguma faixa de areia escaldante no Golfo da América, sorvendo nossa bebida preferida com canudos de plástico, porque os de papel dissolvem na boca e a ninguém que leve o presidente dos Estados Unidos a sério ocorre experimentar uma prazerosa tequila com notas de cartolina.
Entre um gole e outro, o sol é encoberto por uma nuvem, depois outra, depois outras. Mas não temos olhos para a tempestade que se anuncia. Importa apenas a taxação do aço, incomoda apenas a cotação do dólar.
Oito anos atrás ouvimos que Donald Trump era um excêntrico ponto fora da curva que não teria lugar por muito tempo num mundo civilizado.
Mas, ainda que tudo que ele preconize e defenda dê errado, ainda que as big techs deixem o atual aliado para trás, não por ideologia mas por sobrevivência financeira, já terá sido tarde demais para derrotar as ideias que ele representa, ideias democraticamente defendidas e vitoriosas numa eleição presidencial.
Minha modesta recomendação é não acreditar cegamente e até com certo alívio na teoria da cortina de fumaça – fumaça, é claro, cada vez mais escura e densa, produzida com resíduos de combustível fóssil.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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