Expoentes do bolsonarismo fizeram um breve intervalo em suas cobranças pela anistia aos golpistas de 8 de Janeiro de 2023 para se manifestarem sobre outro tema que parece ter causado preocupação ainda maior: a possível camisa vermelha da seleção brasileira. Segundo o site especializado em camisas de futebol Footy Headlines, essa será a cor do uniforme alternativo do Brasil em 2026. A viralização do tema foi a senha para manifestações apaixonadas da extrema-direita.
“A camisa da Seleção sempre foi um símbolo da nossa identidade nacional, do nosso orgulho e das nossas raízes. Sempre foi verde e amarela, as cores da nossa pátria”, disse o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ). “Nossa bandeira não é vermelha, e nunca será!”, prosseguiu o filho de Jair Bolsonaro, usando um chavão antigo da direita.
O assunto tomou parte dos veículos de imprensa esportivos, concorrendo em tempo e espaço com a possível contratação do técnico italiano Carlo Ancelotti para comandar a equipe brasileira na Copa do Mundo do ano que vem, um tema que também ganhou força nesta semana.
A CartaCapital, a CBF se limitou a dizer que “não confirma a informação” divulgada pelo site especializado sobre o uniforme. A entidade, no entanto, optou por não desmentir enfaticamente a informação.
A camisa amarela, que virou símbolo dos autoproclamados ‘patriotas’, seguirá existindo. Mais que isso, ela será o uniforme principal da seleção – de acordo com o site Footy Headlines. A camisa vermelha seria a alternativa, usada para diferenciar as equipes em confrontos contra times que vestem cores semelhantes.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), uma das vozes mais estridentes da extrema-direita brasileira, aproveitou a deixa para criticar o judiciário. “O juíz [sic] também será nosso? A camisa vermelha proporciona essas vantagens…”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).
O tema mobilizou até mesmo a deputada federal Carla Zambelli, que está às voltas com ação penal que pode a levar à prisão e que recentemente se disse ‘abandonada’ por Jair Bolsonaro. “Enquanto nós queremos pacificar o país, eles querem polarizar mais e mais. Eles não querem a paz e o amor. Eles querem guerra”, postou, sem deixar claro quem são ‘eles’.
O que se sabe sobre a nova camisa?
Ao divulgar a novidade, o Footy Headlines disse que trazia “notícias chocantes” e afirmou que o Brasil vai passar a ter uma camisa vermelha ‘revolucionária’ (e muito provavelmente escolheu o termo com uma conotação que não tem relação com revoluções políticas). O design, importante dizer, ainda não foi divulgado.
Ainda segundo o site, que afirma ter informações exclusivas, o modelo terá cor “vibrante” e será “moderno”. Além disso, no lugar do tradicional símbolo da Nike, que fornece o material de jogo da seleção, estaria uma outra imagem, que remete ao jogador de basquete Michael Jordan. A marca ‘Jordan’ é uma espécie de subsidiária da Nike.
Desde que a informação foi divulgada, simulações do modelo feitas com inteligência artificial tomaram conta das redes sociais. CartaCapital pediu ao ChatGPT que simulasse como seria a camisa da seleção a partir das informações mencionadas pelo site Footy Headlines, eis o resultado:
Pedimos ao Chat GPT que gerasse uma imagem de camisa da seleção brasileira em tons de vermelho. Este foi o resultado. – IMAGEM GERADA POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Fala, Galvão!
O incômodo com o hipotético modelo foi além do cenário político. O narrador Galvão Bueno, que por décadas foi a voz “oficial” das transmissões de jogos da Seleção Brasileira na TV Globo e que está atuando na Band, fez um desabafo de quase 8 minutos sobre o tema em seu programa Galvão e Amigos na segunda-feira 28.
“Eu transmiti 52 jogos do Brasil em Copa do Mundo. Acho que tenho algum direito de falar isso”, afirmou, dizendo que a possível camisa vermelha é ‘um crime’. “Isso é uma ofensa sem tamanho à história do futebol brasileiro, estou muitíssimo na bronca”.
Os ex-jogadores Paulo Roberto Falcão, Ricardo Rocha e Casagrande, todos com passagens pela seleção, participavam do programa e concordaram com o protesto, dizendo que a criação de uma possível camisa vermelha é ‘um horror’.
Por outro lado, houve quem manifestasse apoio à ideia. A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) postou uma foto vestindo uma camisa vermelha com o número 13 às costas e ironizou a revolta dos bolsonaristas: “Acho que gostei dessa história da camisa vermelha da seleção brasileira”.
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Houve quem destacasse, ainda, o aspecto comercial da coisa. O comentarista esportivo e humorista Pedro Certezas foi um deles: “os caras estão cercando toda a esfera política brasileira. O próximo passo é vender uma camisa da Seleção só que em vez de ‘CBF’ vai ter ‘Lula’ [em uma] e ‘Bolsonaro’ na outra”.