O tenente-coronel Mauro Cid afirmou nesta segunda-feira 9, em seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não agiu para desmobilizar os acampamentos golpistas montados em frente a quartéis-generais do Exército após a eleição de 2022.
“Não fui eu que chamei, não sou eu que vou mandar embora”, disse Bolsonaro, de acordo com o interrogatório de Cid.
Investigadores apontam a existência e a mobilização dos acampamentos como parte do contexto que viabilizou os ataques de 8 de Janeiro de 2023.
Por ser delator, Cid é o primeiro réu do chamado núcleo crucial da trama golpista a prestar seu depoimento à Corte na fase de interrogatório.
Na oitiva, o tenente-coronel também afirmou que as Forças Armadas apoiaram os bolsonaristas acampados.
Em 11 de novembro de 2022, os então comandantes militares divulgaram uma nota em que, na prática, defendiam os acampamentos que pediam um golpe de Estado. “Não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”, dizia o texto.
Ao contrário do que sugeriu em um depoimento de sua delação, Cid disse nesta segunda-feira não ter presenciado uma ordem de Bolsonaro para a publicação da nota.
“Foi uma dedução baseada no contexto que estávamos vivendo, de não desmobilização, que as Forças Armadas apoiassem de certa forma os manifestantes que estavam ali, e foi o que as Forças Armadas fizeram: apoiaram as manifestações”, disse o militar nesta segunda. “Apoiaram não no que eles pediam, mas os mantiveram ali em segurança.”
Ele também confirmou que havia militares das forças especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, infiltrados nos acampamentos, “fazendo levantamento de vulnerabilidades e possíveis ações”.