O Entrelinhas Vermelhas dedicou sua edição desta semana à análise da situação crítica na Faixa de Gaza, onde, há quase 600 dias, as forças militares de Israel intensificam uma ofensiva brutal contra a população palestina. Os números são devastadores: cerca de 55 mil mortos175 mil feridos (a maioria civis, crianças e mulheres) e 60% da infraestrutura destruída. Praticamente toda a população de 2,2 milhões foi deslocada à força, enquanto a fome se espalha como arma de guerra.

O apresentador Inácio Carvalho e o jornalista Lucas Toth destacaram os relatos de crimes de guerra e a destruição generalizada de infraestrutura, incluindo hospitais e escolas. “A escalada de violência em Gaza é um retrato do que já vimos em 2014, com proporções ainda mais devastadoras”, afirmou Toth. Apesar de tréguas pontuais, Israel retomou os ataques e agora ameaça uma ocupação definitiva do território palestino.

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Paralelos históricos: Gaza 2014 e a repetição de tragédias humanitárias
A pesquisadora Moara Crivelente, doutora em Política Internacional, destaca o papel das potências ocidentais na perpetuação da violência. “EUA, França e Reino Unido armam e financiam Israel, enquanto a ONU se mostra impotente”, critica. Apesar de 147 países reconhecerem o Estado da Palestina, o veto das grandes potências no Conselho de Segurança da ONU mantém a impunidade.

Assista a íntegra da entrevista:

Recentemente, pressões sociais forçaram gestões simbólicas: o Reino Unido suspendeu negociações comerciais com Israel, e a União Europeia revisará seu acordo de associação. Mas, para Moara, é tarde: “Enquanto não enfrentarem o apartheid e a colonização, serão cúmplices”.

A jornalista comparou o atual conflito com a ofensiva israelense de 2014, que durou 70 dias e resultou em mais de 2.200 mortos, sendo 70% civis. “A diferença agora é a cobertura internacional mais ampla, mas o padrão de destruição se repete: ataques a áreas densamente povoadas, escassez de água e alimentos, e um silêncio cúmplice de instituições globais”, explicou. Ela também enfatizou o papel das ONGs internacionais em documentar violações aos direitos humanos.

Solidariedade brasileira: mobilização contra o genocídio e apoio a jornalistas palestinos
O debate destacou ações de solidariedade organizada no Brasil, como as campanhas da Fundação Maurício Grabois e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz). Inácio Carvalho ressaltou a importância de jornalismo independente para combater a desinformação. “Enquanto a grande mídia ocidental silencia ou distorce, nossa missão é levar a verdade sobre Gaza às ruas e às redes sociais”, afirmou, lembrando a morte de dezenas de jornalistas palestinos durante a cobertura.

Manifestações globais — de universidades a estádios de futebol — exigem o fim do massacre. Nos EUA, protestos nas faculdades e até a intervenção de figuras como o dono da Ben & Jerry’s (“Dinheiro para armas, mas não para saúde?”) mostram a fissura no apoio a Israel.

No cenário interno israelense, a crise política se aprofunda. Familiares de reféns acusam Netanyahu de priorizar a destruição do Hamas em vez de negociar vidas. O ex-ministro da Defesa Yoav Gallant chamou a operação de “fracasso retumbante”, e reservistas se recusam a voltar a Gaza.

Questionado sobre a violência, o deputado israelense Yair Golan (ex-general) foi taxado de “antissemita” por Netanyahu — mesmo sendo judeu. Moara explica: “É uma tática antiga para calar críticos, de Chomsky a Breno Altman”. Organizações como o Breaking the Silence (que denuncia crimes de guerra) são perseguidas como “ameaças à segurança nacional”.

Crises interligadas: do Oriente Médio à América Latina
O programa também abordou conexões entre a situação em Gaza e movimentos de resistência latino-americanos. Lucas Toth destacou a importância de “não isolar os conflitos”, apontando para as semelhanças entre a luta palestina e as reivindicações de povos indígenas no Brasil. “A exploração de territórios, a repressão à dissidência e a violência estatal são faces de um mesmo sistema global”, argumentou.

Os apresentadores reforçaram o apelo à mobilização social. “Precisamos transformar a indignação em ações concretas: doações para organizações humanitárias, pressão em parlamentos e divulgação de informações verídicas”, disse Inácio. A equipe também divulgou parcerias com coletivos como o Sindicato dos Jornalistas para proteger profissionais que cobrem conflitos.

O programa encerrou com um chamado à união internacional contra o que classificaram como “genocídio estrutural”. “A Palestina não é apenas uma causa política, é uma questão de humanidade. Enquanto houver voz, seguiremos contando histórias que o poder quer calar”, afirmou Moara Crivelente.

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Last Update: 29/05/2025