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O Facebook não é uma rede social e isto afeta o jornalismo
por Carlos Castilho
Facebook, X, TikTok, Instagram e YouTube não funcionam como redes sociais. Estas empresas e outras do gênero são plataformas digitais que usam dados, fatos, eventos e ideias obtidos gratuitamente de seus usuários e que, depois de processados, são vendidos por quantias milionárias a anunciantes na internet.
A grande maioria dos usuários das plataformas acha que está participando de redes sociais, porque manda e recebe mensagens, combina iniciativas e divulga realizações com outras pessoas. Mas tudo isto é matéria-prima para algoritmos que identificam tendências, preferências e perfis sociais que serão depois vendidos a terceiros ou usados pelas próprias plataformas para incrementar seus negócios e também os seus lucros.
O sucesso da monetização foi tão grande que as plataformas praticamente se apossaram da expressão redes sociais, que apesar disto continuaram a existir, assumindo em muitos casos a denominação de comunidades sociais digitais (1), a maioria delas aglutinada em torno de temas específicos como educação, finanças, saúde, direitos humanos e questões de gênero.
A guerra entre imprensa e plataformas
Como boa parte das interações entre usuários tem origem em notícias publicadas por jornais, revistas e telejornais, os donos destes veículos de comunicação começaram a exigir o pagamento de direitos de republicação, numa guerra financeira que ainda está em curso e que já envolve governos nacionais.
A guerra financeira entre plataformas e a imprensa é complicada porque envolve diferentes abordagens de questões chaves como o caráter social do noticiário jornalístico, a produção de conhecimento na internet, as novas funções da informação em ambiente digital e o crescente protagonismo do público alimentado pela avalanche informativa nas plataformas digitais.
Criou-se assim um paradoxo curioso. De um lado, uma tecnologia velha e ultrapassada (como a das mídias impressas) preconizando uma nova relação entre produtores e consumidores de notícias. De outro, uma nova tecnologia (plataformas digitais) defensora do velho colonialismo informativo, que se baseia na captura sem remuneração de bens alheios.
A relação da imprensa convencional com as plataformas digitais é igualmente complexa porque apesar de compartilharem a mesma estratégia de negócios, as tecnologias sobre as quais apoiam seus sistemas operacionais levam a resultados financeiros opostos.
Porque o jornalismo precisa das redes de informação
O jornalismo não consegue mais dar conta do processamento, edição e disseminação de novos dados, fatos e eventos publicados na internet. Nada menos que 402,72 milhões de terabites em dados são agregados à web por dia.
Portanto, o exercício do jornalismo profissional torna inevitável a colaboração e participação de pessoas comuns aglutinadas em redes ou comunidades, cujo objetivo é produzir informações, e não lucros, como nas plataformas digitais.
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Carlos Castilho é jornalista com doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC da UFSC. Professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária. Mora no Rio Grande do Sul.
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