A célebre frase “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, atribuída ao escritor inglês Samuel Jonhson (1709-1784), encaixa-se como uma luva à extrema direita brasileira — em especial neste momento. E nesse cenário, vale a pena destacar o papel do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que escolheu jogar contra seu próprio país e povo para reforçar sua bajulação patética a Donald Trump e tentar, à revelia da lei, livrar seu pai do processo por tentativa de golpe de Estado.
Dois dos principais jornais do país, situados no estado em que Eduardo Bolsonaro foi eleito — e que nada têm de esquerdistas, como gosta de dizer o bolsonarismo — mostraram explicitamente, em seus editoriais, quão longe foi a atuação deletéria do parlamentar.
A Folha de S.Paulo desta quinta-feira (31) chamou Eduardo, já no título do editorial, de “inimigo do Brasil”. E mais adiante, disparou: “Tal qual um bufão aos pés de trono estrangeiro, adula o presidente Donald Trump e, alheio aos abusos cometidos contra sua própria pátria, comemorou o tarifaço de 50% que o americano prometeu impor ao Brasil se o Supremo não arquivasse o julgamento de Bolsonaro”.
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Apesar de o jornal aliviar para o governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas — ao dizer que a princípio ele “hesitou diante da inaceitável chantagem de Trump”, mas que depois “passou a procurar maneiras de atenuar os prejuízos” — reforça que o estado pelo qual “Zero Três” foi eleito e que ele “deveria representar se honrasse seu mandato” seria um dos mais prejudicados pelo tarifaço de Trump estimulado por Eduardo.
Já O Estado de S.Paulo, em editorial desta quarta-feira (30), pregou, já de cara, que “Eduardo Bolsonaro tem de ser cassado”. Após listar todos os absurdos que ele vem promovendo nos EUA, o jornal diz que “com o prazo expirado da licença que o deputado tirou para sabotar o Brasil em solo americano, e sem planos imediatos de retornar ao País, esperava-se que ele renunciasse ao mandato que os paulistas infelizmente lhe deram”.
E continuou: “Nos últimos dias, difundiu-se na imprensa a possibilidade de a Câmara adotar o mesmo artifício usado no caso do deputado Chiquinho Brazão, réu pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco: deixar que as faltas às sessões cumprissem a função da perda do mandato. Será um erro gravíssimo. A fim de cuidar da própria imagem, não bastará ao Legislativo federal recorrer a essa solução. Afinal, Eduardo Bolsonaro passou dos limites e merece não a inércia corporativista da Casa, mas uma punição dura, real e imediata”.
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As opiniões oficiais dos dois jornais verbalizam parte do sentimento que se instalou numa fatia considerável da população — ao menos naquela que tem algum senso crítico para compreender a gravidade do que Eduardo e companhia vêm fazendo contra o país. E isso certamente pesará nos planos presidenciais de Eduardo, dada a inelegibilidade e possível condenação do pai.
Diante de tantas evidências recentes do desprezo que a família Bolsonaro tem pela lei, pela soberania do país, pelo papel das instituições e pelo povo — o que já ficara patente na tentativa de golpe, na “gestão” da pandemia e em outras tantas ações contrárias aos interesses nacionais — fica claro que o tal “patriotismo” por eles pregado é, na verdade, mais próximo do que pontuou Jonhson do que da palhaçada em verde e amarelo que o bolsonarismo vem protagonizando nos últimos anos.
Talvez mais adequado do que o lema “Deus, Pátria e Família” entoado pelo grupo e seus apoiadores fanatizados, caiba melhor um “Trump, EUA e Família” — não a sua, mas a de Bolsonaro, claro.