A primeira privatização confirmada desde que Javier Milei chegou ao poder na Argentina entregou uma empresa pública do país a doadores de campanha do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem o mandatário argentino é um orgulhoso aliado.
O alvo da privatização foi a Industrias Metalurgicas Pescarmona, conhecida com Impsa, uma das principais empresas argentinas dos setores metalúrgico e energético. “Privatizamos a Impsa”, resumiu o ministro da Economia argentino, Luis Caputo, em postagem feita na última quarta-feira 8 na rede social X.
Na prática, as ações do Estado serão vendidas a um consórcio norte-americano conhecido como Industrial Acquisition Fund (IAF), ligado ao setor de petróleo e gás do país. A principal sócia da IAF é a empresa ARC Energy, a única a enviar proposta pelas ações da estatal.
A companhia é norte-americana, mas seu presidente e dois dos seus diretores são venezuelanos e representam bem a parcela eleitoral do voto latino nos EUA. Segundo informações do jornal Ámbito Financiero, um dos principais veículos da imprensa especializada em economia na Argentina, os mandatários da ARC Energy aparecem publicamente como financiadores da campanha de Trump.
A justificativa do governo para a privatização é a busca pelo déficit fiscal zero, abrindo mão da participação do Estado em empresas que o governo julga deficitárias.
Conforme diz o próprio Ministério da Economia da Argentina, essa seria uma “possibilidade de a empresa [Impsa] continuar sua atividade de forma saudável dentro de uma estrutura de economia de mercado”.
Mas, para levar adiante as privatizações que pretende realizar, o governo precisa contar com a colaboração de outras forças políticas do país, incluindo os governadores das províncias.
No caso específico da Impsa, a empreitada foi aprovada pela província de Mendoza, que tem participação acionária na empresa. O governador de Mendoza, Alfredo Cornejo, é considerado um ator de boas relações com o governo Milei, embora não seja um apoiador irrestrito do movimento representado pelo presidente.
O poder público argentino tem 84,9% das ações da Impsa, embora elas não deem direito a voto. Desse montante, pouco mais de 60% pertence ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Produtivo, enquanto uma fatia de 21,2% fica com a província de Mendoza.
Em um primeiro momento, o fundo norte-americano vai fazer um investimento de 27 milhões de dólares e deverá começar a executar o refinanciamento da dívida da Impsa, que, segundo o governo argentino, gira na casa dos 576 milhões de dólares.
Para renegociar a dívida, o processo deverá ser aprovado pelos credores, incluindo o Banco Nación, banco público argentino.