Wagner Gomes 

Nos meses de maio e junho o governo viu seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad (foto/reprodução internet), virar protagonista de mais um pacote fiscal de causar constrangimento. Lula, como de hábito, virou espectador: a estratégia é ficar longe do palco cada vez que a encenação dá errado. No fim do ano passado, prometeu corte de gastos, mas fez justo o oposto: em vez de cortar, reduziu, com fins claramente eleitorais, a receita, ao propor isentar IR dos salários até R$ 5 mil. Fiasco anunciado. Só poderia dar errado. Agora veio a “reforma da renda” (PL 1.087/95), cronometrada para a pré-campanha. A ideia é transformar a isenção de IR num “auxílio eleitoral”, imitando o ticket de 2022. Mas a conta estoura rápido: fruto de leilão político, esse tipo de gasto nunca fecha sem endividar. Quando o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias mostrou desvio nas metas de 2025, Haddad esboçou o pacote do IOF — R$ 50 bi entre remanejamentos e aumento de alíquotas. Mais um tropeço: no calor da estreia, incluiu e tirou, em horas, imposto sobre fundos no exterior, num malabarismo que, sendo benevolente, beira o ridículo. Fora o erro de conceito: IOF é tributo regulatório, não galinha de ovos de ouro. O Congresso reagiu como numa final de campeonato: insatisfação geral e promessa de derrubar decreto. Haddad correu atrás para negociar “solução estrutural” — mas sem dizer o quê. Em meio a esse improviso, a economia patina: juros a 15%, inflação teimosa e PIB morno. As finanças públicas desorganizadas pediriam uma política fiscal séria. Mas o governo segue crendo que o problema é de comunicação, não de conteúdo. É esperar para ver o próximo capítulo — e torcer para que, desta vez, alguém leia o roteiro antes de estrear. 

Wagner Gomes – Articulista 

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 22/06/2025