Em dia ensolarado, com água a 20°C, bactérias e vazão em baixa, as condições estavam ideais para o aguardado mergulho, cinco dias após a ministra dos Esportes, Amélie Oudéa-Castéra, ter entrado nas águas do Sena.
A poucos passos do Hôtel de Ville, sede da prefeitura, a prefeita da cidade-sede, o presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (Cojo) e o representante do governo para a região Île-de-France, Marc Guillaume, mergulharam na água verde opaca por volta das 10h da manhã, pelo horário local.
Com rabo de cavalo e roupa de mergulho preta, Anne Hidalgo nadou cerca de cem metros em estilo crawl. Foi um ato simbólico mais de cem anos após a edição de uma portaria que proibiu o banho no rio em 1923.
Centenas de espectadores aglomerados na ponte Sully observaram a cena. O mergulho era crucial para os organizadores da Olimpíada, que fizeram do rio a estrela desses Jogos e de sua despoluição um dos pilares de sua candidatura.
“É sonho realizado”, reagiu Hidalgo após nadar alguns minutos, “a promessa foi cumprida”. “Os Jogos foram um acelerador” e este mergulho simbólico marcará “um marco” e “será um legado importante”, continuou a prefeita.
A hora da verdade
O Estado e as autoridades locais da região Île-de-France investiram 1,4 bilhão de euros desde 2016 para tornar o rio Sena e seu principal afluente, o Marne, próprios para banho.
As etapas de saneamento incluíram a modernização das estações de tratamento de esgoto, a conexão das barcaças ao sistema de esgoto e a coleta de resíduos plásticos. O plano também resultou em cinco obras importantes, incluindo um reservatório de águas pluviais e residuais perto da estação de Austerlitz, uma verdadeira catedral subterrânea escavada no centro de Paris.
Essas obras “permitirão reduzir para menos de dois dias após a última chuva o período de impossibilidade de realizar as provas no Sena”, afirmou a prefeitura em março.
A hora da verdade está se aproximando para os organizadores: após a cerimônia de abertura, as provas de triatlo (30 e 31 de julho, e 5 de agosto), natação em maratona (8 e 9 de agosto) e paratriatlo (1 e 2 de setembro) devem ocorrer no Sena.
No entanto, em agosto de 2023, os ensaios dessas disciplinas foram um pesadelo para os organizadores, forçados a cancelar vários dias de testes devido à água imprópria para banho.
Em caso de chuvas intensas, água não tratada pode ser despejada no rio, um fenômeno que as obras de retenção inauguradas pouco antes dos Jogos visam evitar.
O plano B consiste em adiar as provas por alguns dias, e um plano C visa transferir a natação em maratona para Vaires-sur-Marne (Seine-et-Marne).
Últimos resultados positivos
Nas últimas duas semanas, apesar de um fluxo do Sena ainda elevado (cerca de 400 m³/s na terça-feira), o que piora a qualidade da água, a prefeitura e as autoridades da região anunciaram resultados bacteriológicos geralmente positivos, após várias séries de análises com resultados ruins em junho devido às chuvas.
Segundo as duas últimas amostragens realizadas em 26 de junho e 4 de julho pela ONG Surfrider no percurso olímpico, a concentração de E. Coli e enterococos, as duas bactérias fecais medidas para autorizar ou não o banho, estava conforme as normas das federações internacionais dos esportes envolvidos.
“As águas estão próprias para banho no momento”, comentou à AFP Marc Valmassoni, supervisor de água e saúde da Surfrider, lamentando, no entanto, que a concentração de produtos químicos não seja levada em conta pelas autoridades.
Após seu mergulho na quarta-feira, Anne Hidalgo prestou homenagem a Jacques Chirac, que, quando era prefeito da capital, em 1990, prometeu aos parisienses que as águas do Sena estariam próprias para banho.
Três décadas depois, a partir do verão de 2025, todos os parisienses devem ser autorizados a nadar em diversos pontos do rio.