Na última semana, o governo dos Estados Unidos anunciou sanções contra a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese. A decisão, comunicada pelo secretário de Estado Marco Rubio, foi motivada pelas denúncias feitas por Albanese contra o genocídio perpetrado por ‘Israel’ na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
As sanções, que devem incluir o congelamento de ativos em território norte-americano e a proibição de entrada nos EUA, foram justificadas por Rubio com acusações genéricas de “antissemitismo”, “apoio ao terrorismo” e “desprezo aberto pelos Estados Unidos, por ‘Israel’ e pelo Ocidente”. Segundo o representante norte-americano, Albanese não teria “condições de seguir atuando como relatora especial”.
Francesca Albanese ocupa uma das posições mais estratégicas do sistema de monitoramento da ONU: seu mandato é responsável por acompanhar e reportar as violações cometidas por ‘Israel’ contra os palestinos. Desde o início da ofensiva sionista em Gaza, em outubro de 2023, a jurista italiana se destacou como uma das poucas autoridades internacionais a qualificar os crimes de ‘Israel’ como genocídio e exigir a responsabilização de seus aliados.
Alvo frequente de ameaças de morte e campanhas de difamação coordenadas por entidades sionistas e governos aliados, Albanese denunciou em diversas ocasiões “a corrupção moral e política do mundo”, que permite a continuidade do genocídio em Gaza. Em entrevista ao jornalista norte-americano Chris Hedges, ela declarou:
“Os assassinatos em massa, a tortura psicológica e física, a destruição, a criação de condições de vida que não permitem aos habitantes de Gaza viver — da destruição de hospitais ao deslocamento forçado em massa e à fome — não podem ser lidos de forma isolada.”
O mais recente relatório de Albanese, intitulado Genocídio como apagamento colonial, relaciona diretamente os massacres à ocupação sionista. O documento também denuncia 48 corporações, instituições e universidades que lucram com a ocupação e com a destruição da Palestina, violando o direito internacional. Entre os nomes citados estão Google (Alphabet), Microsoft, Amazon, Palantir, Lockheed Martin, IBM, Caterpillar, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a BlackRock e outras empresas dos setores financeiro, imobiliário, de seguros e armamentista.
Além disso, Albanese declarou que empresas privadas que colaboram com a ocupação e com a política genocida devem ser consideradas “penalmente responsáveis”. Ela também afirmou que, caso seja confirmada a ameaça feita por David Cameron — de retirar o Reino Unido do Tribunal Penal Internacional (TPI) em retaliação aos mandados de prisão contra Benjamin Netaniahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant —, tanto Cameron quanto Rishi Sunak poderiam ser enquadrados no Estatuto de Roma, que criminaliza tentativas de obstruir a ação do TPI.
A perseguição política a Albanese marca uma escalada na ofensiva do imperialismo contra qualquer tentativa de responsabilização dos criminosos de guerra. Na mesma ocasião, Rubio reafirmou as sanções dos EUA contra quatro juízes do TPI que autorizaram os mandados de prisão contra líderes sionistas. A tentativa de intimidar e isolar a relatora especial da ONU evidencia o compromisso do imperialismo em proteger seus aliados, mesmo diante de crimes amplamente documentados.
Francesca Albanese também apoiou ações diretas contra o bloqueio de Gaza. Em maio deste ano, defendeu publicamente a flotilha Madleen, interceptada por ‘Israel’ ao tentar levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Em sua avaliação, o barco levava “não apenas suprimentos, mas uma mensagem de humanidade”.
Chris Hedges, que entrevistou Albanese para seu novo livro A Genocida Anunciada, escreveu que “quem defende os oprimidos, como Albanese, será tratado como os oprimidos”. O jornalista denunciou que a ofensiva contra a relatora representa um mundo onde “os Estados marginais, como os EUA e ‘Israel’, podem cometer genocídios sem qualquer responsabilização ou freio”.
A perseguição à relatora especial da ONU, portanto, não é apenas um ataque individual, mas uma tentativa de silenciar qualquer voz institucional que confronte o imperialismo e a política genocida do Estado sionista. A resposta da comunidade internacional diante dessa repressão poderá definir os rumos da luta pela justiça na Palestina.