A série “Terra Indomável”, disponível na Netflix, é um faroeste diferente. Retrata os primeiros anos do desbravamento do Oeste Americano, mergulhando nas disputas por território, conflitos culturais e os perigos da própria natureza, em nome do “descobrimento” de um novo lado dos Estados Unidos.

Criada por Mark L. Smith e dirigida por Peter Berg, a série é ambientada em 1857 e segue a clássica jornada do herói, o personagem Isaac (Taylor Kitsch), que protege um garoto com limitações motoras e sua mãe em sua partida para o desconhecido, em busca de um recomeço. No entanto, os fantasmas do passado e as ameaças desse lugar inóspito e mortal os perseguem, com homens em fúria, lutando pelo controle desse “novo mundo”.

A serie traz à tona temas que reverberam os dias atuais. As atitudes e discursos imperialistas e reacionários de figuras como Elon Musk e Donald Trump, que frequentemente desconsideram os direitos e as vozes de grupos marginalizados, encontram eco nas narrativas apresentadas neste enredo. A violência da ocupação não apenas se configura no uso da força física, mas também na imposição de princípios colonialistas que deslegitimam, oprimem e desumanizam os povos originários e suas culturas.

O desrespeito pelos povos nativos é uma constante na história da colonização, e isso é retratado de maneira direta em “Terra Indomável”. Assim como Musk e Trump frequentemente falam sobre a América como um espaço que deve ser “grande novamente”, ignorando as contribuições e direitos das comunidades indígenas, a série mostra a engenharia do genocídio indígena nos EUA.

Os mórmons aparecem como membros de milícias no estado de Utah, que teve um governador que fez parte dessa seita de fanáticos religiosos. A série destaca a precariedade da vida sob regimes que advogam a moralidade tradicional, conectando ideais retrógrados que, mesmo em contextos variados, buscam esmagar qualquer forma de resistência à hegemonia masculina e branca.

Falar sobre a relação com facções de supremacia branca, como a Ku Klux Klan (KKK), é inevitável ao se discutir “Terra Indomável”. O hiper-masculinismo exacerbado presente tanto na série quanto nas práticas contemporâneas de certas figuras públicas ilustra uma moralidade torpe que legitima a opressão. Trump, por exemplo, ao incitar um público que muitas vezes se alinha com ideais da supremacia branca, ecoa a arapuca moral que leva à violência contra aqueles que não se enquadram em uma narrativa de “pureza” do White Power.

O movimento White Power é uma ideologia extremista que defende a supremacia branca. Suas derivações contemporâneas incluem grupos neonazistas, supremacistas brancos e outros movimentos de extrema-direita. Esses grupos frequentemente utilizam símbolos e linguagem codificada para se comunicar e recrutar novos membros. Além disso, eles também utilizam as redes sociais para disseminar sua ideologia e promover ações violentas contra minorias. Na série da Netflix, temos as milícias mórmons encapuzadas, promovendo o terror de forma semelhante à KKK.

Cena de “Terra Indomável”

A terra é um tabuleiro para jogos de poder e barbárie, sem considerar a rica tapeçaria cultural que a população nativa teceu ao longo dos séculos. O negacionismo em relação ao passado é uma característica que une as atitudes de Musk e Trump à história da ocupação do oeste. A série destrói a noção romântica de que a conquista do oeste é um triunfo, apresentando um elenco de personagens que buscam apenas seus interesses, resultando em tragédias e perdas humanas.

A imposição da força através da bala é um reflexo sombrio de uma sociedade que glorifica práticas violentas em sua estrutura. Com uma fotografia impressionante e atuações marcantes, especialmente de Betty Gilpin e Shawnee Pourier e Taylor Kitsch, “Terra Indomável” provoca uma reflexão profunda sobre o legado de opressão que se estende até os dias atuais. A visualização impactante de um ambiente hostil e gelado, imersa em excessos de violência, não busca apenas chocar, mas sim chamar o espectador à ação e à consciência.

“Terra Indomável” não é apenas um faroeste, mas um espelho para a doentia sociedade americana.

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Last Update: 29/01/2025