A nota de repúdio de indígenas sobre a fala de Luciano Huck sobre uso de celular

O apresentador Luciano Huck ao lado da cantora Anitta em durante gravação com indígenas no Xingu, no Mato Groso. Foto: Reprodução/Instagram

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) divulgou uma nota de repúdio após a circulação de um vídeo que mostra bastidores da gravação de uma visita de Luciano Huck ao Parque Indígena do Xingu, em agosto. Nas imagens, publicadas há três dias nas redes sociais, o apresentador aparece orientando cenas durante a filmagem de seu programa na Globo, o que gerou reação imediata de lideranças indígenas.

Huck pediu que indígenas escondam celulares e evitem roupas consideradas “comuns”. Ele afirma que esses elementos interfeririam na imagem que seria exibida ao público.

As gravações acompanham rotinas e rituais da comunidade. Em determinado momento, Huck solicita a uma liderança local que transmita esse recado aos demais participantes, reforçando que a presença de celulares comprometeria a “cultura original” mostrada nas câmeras.

“A gente tá cheio de câmera. Quanto mais celular aparece, eu acho que menos é a cultura de vocês. Quanto mais a gente conseguir preservar as nossas cenas sem celular… porque, assim, quando aparece vocês com o celular, mexe na cultura original de vocês”, diz o apresentador

O conteúdo rapidamente gerou forte reação. Na nota, a APIB expressa indignação e critica a frase “limpem a cultura de vocês”, interpretada como uma associação entre uso de tecnologia e perda de identidade indígena.

A organização afirma que possuir celular não diminui a identidade de nenhum integrante dos povos originários e destaca que elementos culturais não se definem por objetos, mas por ancestralidade, território e memória coletiva.

A APIB também ressalta que o acesso à tecnologia é garantido a todos os cidadãos e, no caso das comunidades indígenas, tornou-se ferramenta relevante para monitoramento ambiental, comunicação, educação e denúncia de violações historicamente ignoradas.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) também se manifestou, afirmando que o apresentador “foi infeliz em sua fala” e que, ao dizer “limpa a cultura de vocês aí”, reforça uma visão “equivocada e perigosa”, já que as culturas indígenas não precisam ser “limpas”. A entidade acrescenta que cada indígena carrega a cultura de seu povo na língua, no corpo, na memória e nas práticas, e que isso “não deve ser moldado ao olhar do outro”. Por fim, espera que o episódio gere reflexão sobre diversidade cultural e autodeterminação — “com ou sem celular na mão”.

Diante da repercussão, Huck afirmou no dia seguinte que “foi apenas uma decisão de direção de arte, um ajuste pontual dentro do contexto de um set de filmagem, nada além disso.” Declarou ainda, ter longa relação com povos indígenas e reiterou apoio à preservação de seus territórios e tradições. Disse que não buscou impor restrições culturais ou de consumo e classificou o episódio como uma instrução pontual dentro do contexto da gravação.

Confira o vídeo:

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