Hoje, completam 77 anos do episódio mais importante da História Moderna da Palestina, a Nakba. Em uma tradução literal do árabe, “Nakba” é “catástrofe”, contudo não significa que o episódio histórico que a palavra tenta captar foi um evento “aleatório”, a exemplo de algumas chamadas “catástrofes naturais”. A Nakba, pelo contrário, foi um evento minuciosamente planejado e cuidadosamente executado, o que incluiu uma ampla gama de requintes de crueldade por parte do colonizador, mais do que isso… ela foi claramente desejada pelo projeto judaico sionista, na Palestina.
A Nakba foi a expulsão pela violência direta, pelo terror e pelo desespero criados por grupos paramilitares judaicos, fortemente armados e rigorosamente treinados, que mais tarde seriam a base fundamental do exército genocida de Israel (o mesmo que a 580 dias massacra civis na Faixa de Gaza). A “catástrofe” é realizada sobre uma população originária palestina desarmada de meios de autodefesa, aliás, o desarmamento da população civil palestina, com papel fundamental do imperialismo britânico, foi um dos elementos que compõem a preparação da Nakba.
O objetivo não era somente o roubo, a expropriação e a posterior anexação dos territórios palestinos com suas plantações, casas, prédios, indústrias, estradas, portos, ferrovias, etc., nem só a expulsão de metade da população palestina, o que correspondia à época a 700.000 palestinos de seus territórios milenares… o grande objetivo do colonizador judaico sionista era o desfazimento do povo palestino.
A esperança por parte do projeto colonizador era que a violência, terror e desespero fossem capaz de deslocarem a população palestina para os países árabes circunvizinhos e que essa sucumbisse para sempre pelo desfazimento do seu tecido social. A tese judaica sionista era de que os palestinos se “diluiriam” em um mar de árabes, isto é, os palestinos deixariam de ter uma feição própria para se tornarem em uma, duas ou no máximo três gerações, em um “árabe genérico” esquecido de seu território milenar.
Os relatos dos palestinos, que vivenciaram essa época, são dolorosamente dramáticos: famílias se separando, a incerteza sobre o futuro, as chaves das casas sendo carregadas na esperança do retorno, a saudade imensa da vida nos vilarejos e dos amigos, a perda dos seus bens materiais, muitos destes remetiam a heranças históricas centenárias ou milenares, a morte e os relatos de violência atrozes e abjetos praticado pelos judeus sionistas, etc.
A Nakba é uma gigantesca dor!
A dor da expulsão e do assassinato se transformou na dor do parto e da vida de um novo palestino.
Dito de outra forma, a dor que tinha como objetivo a destruição do povo palestino e seu apagamento histórico foi a mesma que, dialeticamente, reconstruiu a identidade palestina. Os palestinos foram capazes de responder à tragédia que lhes foi produzida, não sem muito sofrimento, com unidade, fortalecimento de seus laços sociais, solidariedade etc. como verdadeiramente um povo e, não, como um amontoado de gente genérica como esperava o colonizador. Foi assim que os palestinos responderam ao dilema existencial que a Nakba representou: não vamos ser apagados e nem destruídos, somos o povo milenar do território da Palestina e incorporaremos a nossa identidade do passado às exigências da luta de resistência e libertação do presente e do futuro.
Para mim a Nakba é um dia de dor, pela vil violência que os palestinos foram vítimas, mas também marca o “nascimento” de um dos mais valentes, corajosos e politizados povos do mundo. Nessa longa caminhada, os palestinos através de sua luta transformaram sua causa na maior e mais importante da humanidade em nossa época histórica – isso tudo com muita dor e sofrimento… como a da Nakba.