Meio Quilo fugiu de um encontro comigo, por estar com Parkinson. Francha morreu, assim como Arlei, o Tião Cabo Verde, o Caiuby, o Aref, o Zé Grandão. Bem antes deles, morreram o Barbosinha, nosso Netinho, a Rosa Maria, musa maior do GGN.

João Amaral  armou uma última reunião do GGN, anos atrás. Foram educados comigo, porque não se discutiu política, e não precisei saber quais amigos do GGN tinham bolsonarado. Só recordamos as canções que marcaram nossa geração. Pouco depois, ele morreu. A reunião foi sua despedida, sem que soubéssemos. Dos amigos de longe, restaram apenas o Tomás e a prima Cristina, acho que o Zé Robertinho.

Todos nós éramos seguidores incondicionais de João 23 e da Mater et Magistra. E, agora, com a morte do Papa Francisco, parece a segunda morte de João 23 e de uma Igreja que se perdeu no reinado obtuso de João Paulo 2º, o verdugo da Teologia da Libertação.

Há um sentimento de solidão de todos que sonhamos com um mundo melhor. É como se, dia após dia, avançasse o arbítrio, o individualismo atroz, trazendo consigo a insensibilidade, a crueldade transmudada em planilhas indecifráveis, os bezerros dourados da contemporaneidade vazia.

A morte do Papa Francisco, previsível, deixou um vazio enorme, e, como poucas vezes antes, entendi o significado da palavra pastor. É como se com ele morressem os derradeiros sonhos de uma juventude decepada a tantas décadas pelo golpe militar, pelo fim da Juventude Estudantil Católica, da Juventude Universitária Católica, da Juventude Operária Católica, pelo emboloramento cada vez maior da Igreja Católica, sem as luzes do Concílio.

Até que surgiu o Papa Francisco.

Não teve tempo de desmanchar a destruição perpetrada pelo indigno João Paulo 2º, que assumiu após a morte de João Paulo 1º, o breve. Nem sei se estava em seus propósitos reconstruir esse braço da Igreja católica latino-americana.

Mas ajudou a arejar o bolor secular da Igreja. Abençoava o casal gay mas não oficializou o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Enaltecia o papel da mulher, mas não abriu espaço dentro do opressivo patriarcado que domina a Igreja. Celebrava a família, mas não ousou aceitar o casamento de padres nem a ordenação de pessoas casadas.

Mas, de qualquer modo, espalhou a solidariedade e o respeito ao próximo por todos os quadrantes. Ontem, havia informações de evangélicos aos prantos, de palestinos e da Federação Israelita lamentando. Com ele morreu não apenas um pedaço da Igreja, mas do espírito de solidariedade, cada vez mais escasso em um número dominado pelos algoritmos.

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Last Update: 22/04/2025