A missão de Flávio hoje pode se desmanchar amanhã. Por Moisés Mendes

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)

Essa é a mais óbvia de todas as conclusões provisórias sobre a decisão de Bolsonaro de ungir o filho Flávio para dar continuidade ao seu projeto interrompido por uma eleição e um golpe fracassados: impedir que outro desvirtue o seu legado. E o outro seria Tarcísio de Freitas.

Bolsonaro sabe que o filho é hoje o mais fraco de todos os nomes que poderiam levar os planos da extrema direita adiante. Mas sabe que só ele, por fidelidade absoluta ao pai, pode impedir que Tarcísio se transforme, como dizem Eduardo e Carluxo, no candidato do sistema na carona de Bolsonaro.

Bolsonaro quer uma base mobilizada para a eleição de 2026, pensando principalmente na disputa pelo controle do Senado. E comete, com esse movimento, a única e aparente contradição, que não é pequena: Flávio poderia ser reeleito pelo Rio com facilidade.

Mas a missão que recebeu é maior. Outro entra em seu lugar, e o filho assume a tarefa prioritária, porque Bolsonaro também acredita que pode se repetir com o filho em 2026 o que aconteceu com ele em 2018. Bolsonaro está certo de que é possível vencer de novo.

Em 2018, até poucos meses antes da eleição, o tenente continuava sendo alguma coisa estranha e não estava bem nas pesquisas. A sombra de Lula, já encarcerado desde abril, continuava perturbando sua caminhada. E aí acontece a facada em 6 de setembro.

Momento logo após Jair Bolsonaro ser esfaqueado durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro de 2018

No dia 3 de outubro, com 32% dos votos, contra 21% de Fernando Haddad, segundo o Datafolha, Bolsonaro cresceu e avisou que venceria no primeiro turno. Porque o imponderável estava à sua espera na esquina. É no que eles apostam de novo.

Flávio fideliza a base raiz e consegue manter o bolsonarismo mobilizado para a eleição que mais importa, que é a do Congresso. Se perder para Lula, mas a direita ampliar presença na Câmara e no Senado, terá cumprido sua principal missão: salvar e manter o que o pai havia construído e ampliar a estrutura de sabotagem ao governo Lula.

A direita antiga, de Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira e Gilberto Kassab, terá que entender esse cenário, para que as campanhas estaduais decidam se engajar ou não ao nome de Flávio, sem a presença de Bolsonaro e sem Tarcísio.

É o que temos hoje. Mas pode mudar amanhã, se Flávio apear do cavalo encilhado pelo pai, e se Tarcísio ou até Michelle decidirem montá-lo. As convicções do fascismo podem durar uma semana.

Uma das mais dramáticas situações é compartilhada por Globo, Folha e Estadão, que ficam de novo, como aconteceu em 2018, sem ter onde se agarrar.

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