No fim de 1941, o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt disse à esposa, Eleanor, que receberiam visitas por pelo menos uma semana. Não revelou o nome do hóspede, mas anunciou que um quarto no segundo andar da Casa Branca viraria escritório e que era preciso aumentar o estoque de champagne, conhaque e jerez. Dias depois, chegava o premiê britânico Winston Churchill.
O chefe de recepção da Casa Branca lembrou que “em seu quarto, o Sr. Churchill não usava roupa alguma durante a maior parte do dia”. Num dia, o presidente Franklin Roosevelt bateu à porta da suíte do primeiro-ministro. Tomou um susto quando viu Churchill completamente nu, com uma bebida em uma mão e um charuto na outra. Roosevelt, visivelmente perturbado, ofereceu-se para ir embora, mas Churchill hesitou: “Veja bem, senhor presidente, não tenho nada a esconder”. Os dois conversaram então por uma hora. Essa é uma das histórias narradas em Mr Churchill in the White House: The Untold Story of a Prime Minister and Two Presidents, de Robert Schmuhl, lançado ano passado e sem tradução ainda no Brasil.
Diametralmente oposto a Hitler – vegetariano, abstêmio e avesso a qualquer tipo de fumaça – Churchill punha seu fígado e seu pulmão à toda prova. A mesa era também uma maneira de saciar seu apetite por informações e poder. Gostava de sopas (não tolerava cremes), não dispensava um bom caviar, preferia caça ou aves como prato principal. Na sobremesa, sorvete, seguidos de pêra e queijo stilton.
Na Primeira Guerra Mundial, escreveu que quatro coisas eram essenciais na vida: banhos quentes, brandy envelhecido, ervilhas frescas e champagne gelada. Álcool fazia parte do seu dia a dia. “Eu tirei mais do álcool que ele de mim”, era uma de suas tiradas. Churchill gostava de dizer que uma taça de champagne nas refeições estimulava o ânimo e o raciocínio. Desde a década de 1920, criou preferência pela marca Pol Roger (importada no Brasil pela Mistral).
Quando Paris foi liberada do cerco nazista, em 1944, a embaixada britânica em Paris resolveu fazer uma festa convidando o premiê e alguns nomes da sociedade francesa. O embaixador britânico, Duff Cooper, sabendo do apreço de Churchill pelas borbulhas de Reims e por belas companhias femininas em recepções, colocou ao seu lado, no evento, Odette Pol Roger, cujo marido comandava a vinícola predileta do primeiro ministro. A amizade foi instantânea: Churchill nomeou Pol Roger um de seus cavalos de corrida. Já a fabricante de champagnes batizou sua cuvée de luxo com o nome do premiê britânico, o principal divulgador da champagne.
Chegou a gastar por ano mais de 100 mil dólares em vinho, segundo o livro No More Champagne: Churchill and His Money, de David Lough, também não lançado no Brasil.
No fim de 1945, terminada a guerra, Churchill se reuniu com o rei saudita Ibn Saud, cuja religião requisitava abstenção de álcool e tabaco. Iniciou a proza dizendo que sabia dos pré-requisitos religiosos de sua alteza, mas que a religião dele prescrevia como “rituais sagrados fumar charuto e beber álcool antes, durante e depois de todas as refeições e nos intervalos.” O rei aquiesceu.
Os charutos eram outram de suas paixões. Depois de ter trabalhado como correspondente de guerra em Cuba no fim do século XIX, aprendeu a complexidade dos puros. A crise de 1929 fez com que tivesse de se virar de vez em quando com charutos americanos, mas a ascensão ao cargo de premiê britânico mudou tudo, além de fazer com que ganhasse caixas e caixas de fumo cubano. Sua marca preferida era Romeo y Julieta. Chegava a acender entre oito e dez charutos por dia, mas não chegava a fumar nem metade deles; deixava grande parte apagar, o que permitia que mastigasse o fumo.
O vício era tamanho que, segundo um de seus biógrafos, Churchill pediu para que engenheiros da Força Aérea Britânica confeccionassem uma máscara especial que permitisse fumar a mais de sete mil metros de altura em um voo com oficiais. Uma vez o marechal de campo Bernard Montgomery disse ao premiê que não bebia nem fumava porque precisava estar 100% apto para a guerra. Ao que Winston retrucou de bate pronto: “eu bebo e fumo e estou 200%.”